O início da segunda e derradeira semana da COP-15 foi infernal para centenas de pessoas que vieram de diferentes lugares do mundo para acompanhar de perto as negociações do futuro acordo climático. Quem possuía crachá, chegou a enfrentar uma hora de fila pela manhã para passar pelo bloqueio de segurança do Bella Center.
Muitos participantes de organizações não-governamentais foram impedidos de adentrar no Bella, embora possuíssem o crachá da COP-15. Com a desculpa de que a capacidade total do centro de eventos, de 15 mil pessoas, já estava superada, os organizadores da COP-15 distribuíram cartões às ONGs em número inferior ao do de credenciados da entidade. Para entrar, a pessoa agora precisa portar o crachá e o tal cartão.
Como exemplo, vejam o caso da Plan Internacional, organização que atua na área de infância e juventude, sobretudo em países em desenvolvimento, como o Brasil. A Plan possui 20 pessoas devidamente credenciadas pela organização da COP-15, mas a cada dia ela terá de escolher 11 para entrar no Bella Center, número correspondente aos 11 cartões extras recebidos. Crianças e adolescentes do Quênia da Indonésia que estão atuando como jornalistas em um projeto da Plan na COP-15 tiveram de esperar horas na fila do lado de fora do Bella Center, sofrendo na manhã gelada da capital dinamarquesa.
Em uma atitude possivelmente deliberada, apenas uma esteira do aparato de segurança que verifica bolsas e casacos era reservada à fila de credenciamento. Isso agravava ainda mais o problema da espera, enquanto aparentemente mantinha sob controle a presença no interior do centro de eventos. Muitas das pessoas que esperaram várias horas nessa fila também tiveram seu credenciamento negado sob a justificativa do excesso de gente nas dependências do Bella Center.
As autoridades dinamarquesas devem zelar pela segurança dos participantes da COP-15, inclusive limitando o número de pessoas dentro do Bella Center, se essa for a única solução possível. Mas o problema foi criado pela organização do evento, que não estabeleceu critérios nem prazo para a requisição de credenciamento no website do secretariado da Convenção do Clima.
As pessoas gastaram muito dinheiro com passagens de avião e hotel e agora terão de arcar também com o elevado custo do excelente sistema de transporte público de Copenhague e Malmo, cidades onde a maior parte dos participantes está hospedada. Também terão pagar muito caro para comer, ao passo que no Bella Center a comida é mais barata, embora a porções sejam pequenas.Será que um país normalmente tão organizado e planejado como a rica Dinamarca e o secretariado da Convenção não poderiam ter previsto que o interesse pela COP-15 seria tão grande?
Como não houve avisos com antecedência suficiente para as pessoas reverem sua decisão de viajar para Copenhague, o problemão causado por quem aceitou as inscrições vai provocar outro problemão, que é a frustração de milhares que para cá vieram engrossar o cordão pró-acordo climático.