Depois de um tempo no exterior, a gente se esquece de que a vida em São Paulo é feita de pequenas vitórias – e é preciso torcer por elas. Torcer para que o ônibus passe logo, para que o corredor não esteja entupido de carros e dê para descer a tempo de pegar o farol de pedestres aberto. Torcer para que não tenha fila no banco, para que a moça do caixa não peça RG, CPF e comprovante de residência para realizar uma operação qualquer, e para que o Poupatempo realmente ajude gastar menos tempo com burocracia.
Torcer para que esses mesmos RG, CPF e comprovante de residência não caiam nas mãos erradas e você acorde um belo dia com a cobrança de um financiamento feito em teu nome em Porto Velho. Torcer para que o cartório – instuição mais brasileira, impossível – emita a segunda via da tua certidão na hora e não dali a dois dias. Torcer para que não chova na hora do rush, para que aquele teu amigo que você não vê faz tempo consiga superar todos os obstáculos e te encontre na hora marcada, para que ninguém assalte o bar em que vocês foram tomar aquela cervinha de final de dia. Torcer para que faça sol no fim de semana, para não tenha muita fila no cinema e para que, de noite, o barulho do trânsito amaine.
Nessas semanas que estive na capital paulista – cuja população de quase 19 milhões beira o total de habitantes da Austrália inteira, de 21 milhões –, toda vez que escapei de uma dessas coisas tive a sensação de que o universo e os astros conspiravam a meu favor.
As grandes vitórias são muito mais raras. Para nós que fundamos a revista Página 22 em 2005 (ela nasceu como Adiante, mudou de nome em setembro de 2006), uma olhadela rápida nas bancas no começo dessa semana foi recompensadora.
A grande maioria das revistas semanais – com exceção da Isto É – colocou a questão ambiental na capa. Os jornais, dia sim, dia não, engrossaram o coro. Todos na onda, claro, da reunião de Copenhague, que periga se tornar evento mais importante para a conscientização ambiental do que o filme de Al Gore e o Nobel do IPCC em 2007. Se em 2005 Página 22 era a única publicação brasileira voltada integralmente para as interligações entre questões econômicas, ambientais e sociais, hoje tem para todos os gostos – o tema definitivamente chegou ao mainstream.
É muito bacana estar em São Paulo para ver isso acontecer. Agora resta torcer para que no final do dia de hoje, chova ou faça sol, com trânsito ou sem, venha de Copenhague a notícia de uma grande vitória.