Em outubro, quando concedeu entrevista à Página 22, Mike Hulme, professor da Escola de Ciências Ambientais da universidade de East Anglia, considerou controversa a visão da mudança climática como um problema de ação coletiva que deve ser enfrentado por meio de uma estrutura universal em que todas as partes assumem responsabilidade de reduzir emissões de carbono. Se a recém-encerrada reunião de Copenhague manda algum recado ao mundo, talvez seja a de que está na hora de buscar outras formas de lidar com o problema.
Por email, horas depois do desfecho final de Copenhague, Hulme enviou sua reação aos resultados da reunião, destacando que uma abordagem “bagunçada” será muito mais eficiente do a “elegante” que se buscava na COP15. A hora, segundo Hulme, é da diversidade. A seguir, os comentários na íntegra do pesquisador, que foi diretor fundador do Tyndall Centre for Climate Change Research, e em 2009 lançou o livro Why We Disagree About Climate Change:
“O resultado da COP15 confirma minha visão de que, no fim, a política vai sempre triunfar sobre a ciência – seja com a mudança climática, seja com tantas outras coisas. O que vimos acontecer nas duas últimas semanas foi um processo confuso e muitas vezes caótico de política internacional, com 192 vozes querendo ser ouvidas, vozes que no fim foram afogadas por aquelas mais fortes dos EUA e da China, com o apoio de Índia, Brasil e África do Sul.
Para mim, esse resultado também confirma que o clima global não poderá nunca ser governado por um processo multilateral como o das Nações Unidas – na verdade, a ideia de que podemos direcionar o clima do mundo para alcançar uma meta de 2 graus Celsius (ou outra qualquer) por meio de um processo de-cima-para-baixo como esse é uma ilusão perigosa. Muito melhor é quebrar o problema da mudança climática em seus vários elementos constitutivos e enfrentá-los usando uma diversidade de políticas, regulações e programas nacionais, bilaterais, não governamentais e setorais. Uma “abordagem bagunçada” para a mudança climática no fim vai sempre funcionar melhor do que a esperança vazia de uma abordagem “elegante”.
O Brasil parece feliz com o resultado. Foi uma das cinco nações que propuseram o Acordo de Copenhague e seu status aumentou proporcionalmente a isso. Parece que o Brasil vai se beneficiar dos novos protocolos sobre o Redd e sobre financiamento.
Precisamos encarar nossa realidade geopolítica – há muito que podemos fazer para enfrentar problemas ambientais e sociais no mundo hoje, mas pendurar todos esses problemas no cabide da mudança climática e tentar controlar o clima por meio de um tratado universal simplesmente não vai funcionar. Os efeitos da COP15 serão um conjunto mais diverso de iniciativas, e menos fé e esperança no processo da UNFCCC (Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas).”