O Chefe Seattle – aquele que, em 1854, teria escrito que “o que ocorrer com a Terra, recairá sobre os filhos da Terra” – costuma me deprimir. O mesmo acontece quando leio um texto que abre lembrando que “em 1992, líderes de todo o planeta se reuniram no Rio de Janeiro durante a Eco-92”. Ou ainda quando vejo crianças sorrindo ou um animal fofinho – geralmente um urso polar ou panda – num anúncio de desentupidor de pia ou de carro de luxo.
Desculpem a implicância, mas depois de tanto tempo na área ambiental e de ter visto esses clichês centenas de vezes, a paciência acaba.
A lista de lugares-comuns ambientais que infestam a literatura e os meios de comunicação é longa. “A água é um bem precioso”. “O Brasil tem a maior biodiversidade do mundo”. “Tudo está conectado”.
O interessante é que esses clichês são perpetrados por gente que se preza e que não viraria para você, no meio de uma festa, para declarar que “o amor é lindo”.
Dois anos atrás, a Euro RSCG, uma das maiores agências de publicidade do mundo, fez um levantamento sobre o uso de clichês ambientais para convencer os consumidores do engajamento das empresas. Ela encontrou ursos polares em anúncios do HSBC, da Philips, dos sorvetes Ben & Jerry e do sabão Ariel. Flores apareciam em propagandas da Toyota e Volkswagen e crianças brincando nos da Philips e da rede britânica de material de construção e faça-você-mesmo B&Q.
Russ Lidstone, o principal estrategista da empresa, avaliou que, para o consumidor, “essas imagens caem numa vala comum verde que não desafia, nem causa admiração”. “Além disso”, prossegue Lidstone, o abuso do uso dessas imagens perpetua a idéia de greenwash – muitas marcas usam a linguagem do verde, possivelmente sem razão”. Ele recomenda que os anunciantes voltem ao básico, que se relacionem com os consumidores, entendam a sua psicologia e desenvolvam formas inovadoras e atraentes de apresentar a mensagem ambiental.
Eu acrescentaria que o conselho também se aplica a nós, jornalistas, e aos educadores em geral. Clichês são emburrecedores e não ajudam a conscientizar a sociedade.