Vou pegar carona no último post da Flávia, muito bom, sobre a ofensiva da imigração australiana contra a importação de espécies exóticas.
A Austrália tem toda razão em se empenhar nesse sentido, porque o problema é cabeludo. Estudo divulgado esta semana por um pool de organizações voltadas para a conservação da biodiversidade fez, pela primeira vez, a contabilidade dos estragos promovidos pelas exóticas.
Ele mostra como espécies invasoras comprometendo a fauna e a flora de 57 países. Foram documentadas 542 espécies introduzidas por acidente ou propositalmente em hábitats conservados – 316 plantas, 101 organismos marinhos, 44 peixes de água doce, 43 mamíferos, 23 aves e 15 anfíbios.
Dentre as histórias narradas está a do yellowhead, uma ave endêmica da Nova Zelândia que está sendo dizimada pelo aumento da população de ratos. Da mesma forma, um fungo patogênico desconhecido até 1998 mas que se espalha rapidamente parece ser o responsável pela dramática redução das populações de anfíbios em todo o planeta.
O estudo também relata histórias de sucesso, como a do black-vented shearwater, uma ave marinha da Ilha Natividad, na costa do México no Pacífico. Ela estava ameaçada por gatos, cabras e ovelhas trazidos do continente, mas estes foram erradicados da ilha, e a população da ave tem aumentado consistentemente. Num outro episódio, o controle das raposas vermelhas do sudoeste da Austrália, na década passada, permitiu a recuperação das populações do western brush wallaby – um pequeno canguru -, que puderam sair da lista de espécies ameaçadas da União Internacional de Conservação da Natureza (UICN).
O “Global indicators of biological invasion: species numbers, biodiversity impact and policy responses” foi elaborado por cientistas do Centre for Invasion Biology (baseado em Stellenbosch University, na África do Sul), da BirdLife International (rede de organizações envolvidas com a conservação das aves) e da União Internacional de Conservação da Natureza (UICN), sob a coordenação do Global Invasive Species Programme, um esforço conjunto de diversas entidades. A versão divulgada esta semana não detalha boa parte do estudo – estaria o Brasil incluído? – mas é suficiente para abrir o apetite de quem acompanha o tema.
Durante o lançamento, os autores do levantamento afirmaram que os números levantados são muito subestimados e que, embora algumas batalhas desse front estejam sendo vencidas e espécies nativas ameaçadas estejam efetivamente sendo protegidas, esta não é a regra geral.