Uma notícia veiculada na semana passada causou espécie: o Brasil vai agora importar etanol? Como assim? Mas a cana brasileira não era a mais produtiva do mundo? O Brasil não seria capaz de suprir o mundo com seus biocombustíveis? O etanol de milho dos EUA não foi sempre anunciado como mais caro que o nosso?
A notícia dava conta que, frente aa escalada dos preços do etanol, tanto o governo quanto usineiros passaram a considerar a possibilidade de importação do combustível dos Estados Unidos. O tema já teria inclusive sido discutido em reuniões com o governo, que teria concordado em zerar a alíquota de importação do produto, que está na casa dos 20%. As importações teriam como objetivo garantir o estoque de etanol para a enfrentar a entressafra na produção de cana-de-açúcar.
A UNICA (União da Indústria da Cana-de Açucar) divulgou então um comunicado no qual explica que em 30 de outubro de 2009 enviou correspondência à CAMEX (Câmara de Comércio Exterior) solicitando a eliminação da tarifa de 20% cobrada pelo Brasil sobre importações de etanol com o objetivo de ampliar e defender o livre comércio entre as nações, sem barreiras para os combustíveis renováveis.
“Isso tem ver com negociações internacionais. O Brasil não precisa disso, somos os mais efcientes no setor. O pedido não tem nada a ver com o abastecimento do mercado, até porque, se nosso pedido for aceito, as primeiras levas só começarão a chegar no final de fevereiro. Até lá já começou a nova safra”, diz Adhemar Altieri, diretor de comunicação da UNICA.
Altieri diz que se trata de uma estratégia de penetração do produto brasileiro no exterior, buscando fazer do etanol uma commodity energética global. Isso porque a existência dessa tarifa é muito criticada quando se busca a abertura de mercados para o combustível aqui produzido. O fim dessa tarifa seria assim um bom argumento nessas discussões.
A UNICA ressaltou ainda em sua nota que eventuais importações “não representam novidade, pois o Brasil já importou etanol de diversos países em inúmeras oportunidades ao longo dos anos”.
O balanço de energia para converter o milho em etanol – como é feito nos EUA – é negativo. Para cada 1 kcal de energia fornecida pelo etanol, gasta-se 29% a mais de energia fóssil para produzir o álcool, enquanto o balanço energético da cana é positivo, com um ganho de de 3,24 kcal pelo etanol produzido para cada 1 kcal de energia consumida para produção do combustível. Além disso, a cana produz três vezes mais álcool por área do que o milho, e a redução de gáses de efeito estufa (GEE) na produção e combustão de etanol de cana-de-açúcar gira em torno de 65%, ante 12% para o etanol de milho.