Os últimos anos foram pródigos em recalls nos Estados Unidos – indústrias de carros e de brinquedos tiveram de sair à caça dos seus clientes para recobrar ou adequar produtos defeituosos e perigosos.
Desde 2007, o número de recalls de produtos chineses cresceu sem parar – o diário Financial Times chegou até a fazer uma lista desses episódios, atualizada periodicamente.
Num dos casos mais cabeludos, de setembro de 2008, leite em pó para bebês teve de ser retirado do mercado após provocar a morte de quatro crianças e contaminar outras 6 mil com melamina, um composto orgânico com forte presença de nitrogênio, utilizado na produção de plástico e fertilizantes. Vários estudos apontam que, em determinadas circunstâncias, ela pode ser cancerígena, comprometer os órgãos reprodutores e causar distúrbios renais. Algumas indústrias de alimentos chinesas usam a melamina para dar a impressão que seus produtos tem um teor de proteínas mais elevado que o real.
Outro escândalo que estourou em 2008 envolveu a importação de placas de gesso chinesas para a construção civil. Moradores dos imóveis que utilizavam o material começaram a reclamar que as paredes de suas casas estavam emitindo vapores que cheiravam a ovo podre e, segundo alguns, estariam corroendo objetos metálicos. Não deu outra – continham altos teores de ácido sulfúrico.
Mais adiante, no ano passado, começou uma longa série de recalls de berços e assentos de carros para crianças que não ofereciam segurança.
De lá para cá, a lista de recalls só fez aumentar e inclui desde baterias de consoles de videogames que pegam fogo espontaneamente a livros de pano com bichinhos recheados de chumbo. Eu mesma tive que pedir que me enviassem uma capa para bloquear a dobradiça do carrinho da minha filha, de uma marca super badalada, quando vieram a público casos de bebês que tiveram um dedo decepado quando ele era dobrado.
Em resposta aos prejuízos e ao comprometimento da imagem das indústrias do país, o governo da China lançou, no começo do ano passado, uma campanha para que o setor industrial oferecesse produtos de melhor qualidade. Mais de 600 mil empresas teriam participado do esforço. Não é sem tempo.