Existe uma fazenda na Nova Zelândia que em vez de grãos, verduras ou frutas, produz arte. É um pedaço de terra em Kaipara, um enorme estuário cujo ancoradouro natural dá para o Mar da Tasmânia, na ilha do Norte. Conhecida como Gibbs Farm, ou simplesmente The Farm, engloba quatro quilômetros quadrados e 22 esculturas de artistas renomados do mundo todo, quase todas feitas especificamente para o local. O que mais impressiona quando se vê uma amostra da arte ali instalada – eu assisti um curto documentário há poucos dias – é perceber que as alterações da paisagem pelo homem podem, sim, ser belas.
A fazenda era originalmente coberta por florestas de kauri, espécie de árvore de folhas perenes da família das araucárias, e as áreas alagadas ofereciam habitat para uma variedade de animais, especialmente aves. Veio a agricultura, a produção de madeira e a vegetação original foi derrubada ou substituída por eucaliptos e pinho. O empresário Alan Gibbs comprou a terra em 1991 e vem desenvolvendo um programa de recuperação da paisagem e restabelecimento das aves nativas. Além dos elementos naturais, adicionou um toque de arte e comissionou obras de artistas como o americano Richard Serra – que instalou uma longa parede de aço acompanhando a ondulação das colinas e da vegetação ao vento –, o indiano Anish Kapoor – que incrustou um gigantesco cone vermelho, semelhante a um megafone, em meio a duas colinas – e o escocês Andy Goldsworthy – que erigiu uma série de arcos em pedra que vivem ao sabor das marés (fotos).
Goldswortlhy é uma velha paixão minha, desde que anos atrás, por acaso, assisti ao documentário Rivers and Tides, que descreve o modo de trabalhar do artista. Seu substrato é a natureza – folhas, galhos, pedras, seixos, raízes, pigmentos, neve – e boa parte de seus trabalhos é efêmera: vai-se com a maré, o vento, o calor ou uma nova estação. No filme, vê-se várias vezes o esforço do artista desfazer-se em um instante, graças a um graveto a mais, um sopro de vento. É como se o nosso coração parasse junto com o dele, mas Goldsworthy diz que é assim, com os fracassos, que ele aprende sobre os materiais, seu peso, sua massa, sua flexibilidade. E quando finalmente consegue terminar uma obra, é de encher os olhos.
Goldsworthy captura o momento em fotografia, mas o que o artista preza é saber que ele faz parte do processo de mudança da natureza. “Cada trabalho cresce, vagueia, decai – partes integrais de um ciclo que a fotografia mostra em seu pico, marcando o momento em que o trabalho está mais vivo. Há uma intensidade em um trabalho que está no pico que, espero, seja expressa na imagem. Processo e decaimento estão implícitos”, diz.
Infelizmente, a Gibbs Farm e muitas das obras permanentes de Goldsworthy não estão abertas ao grande público, que provavelmente se beneficiaria imensamente de poder contemplar os efeitos da arte sobre a paisagem e da paisagem sobre a arte.