“Quando se pensa em biodiversidade, pensa-se logo em onde tem muita árvore. Mas quimiodiversidade da Caatinga é uma coisa impressionante”. Essa foi uma fala que nos encantou, lá em 2008, quando decidimos fazer uma edição inteira dedicada aos biomas brasileiros menos badalados que a Amazônia.
O Autor é José Maria Barbosa, chefe do Laboratório de Tecnologia Farmacêutica da Universidade Federal da Paraíba. À época ele nos explicou que, para sobreviver no ambiente hostil, gerar espinhos, galhos retorcidos e raízes profundas, as plantas reagem com uma quantidade enorme de sinais químicos, chamados de metabólicos-secundários, que são ricos em ativos medicinais.
O segredo dos fitoterápicos é só uma das riquezas que a Caatinga perde ao ritmo de duas cidades de São Paulo por ano, conforme levantamento divulgado ontem pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA).
É surpreendente que o principal vetor desse desmatamento não tenha nada a ver com especulação fundiária ou com a indústria madeireira. A Caatinga não serve para construção. Ela queima, simplesmente, em fogões a lenha, casas de farinha e cerâmica, carvoarias e, principalmente, no pólo gesseiro da Chapada do Araripe.
Enquanto indústrias se sustentam basicamente pela aniquilação de recursos florestais nativos, o MMA acredita que não haverá solução para a defesa do bioma sem alternativas energéticas como pequenas centrais hidrelétricas, energia eólica ou gás natural, segundo relatos da coletiva de imprensa realizada em Brasília.
Há outra possibilidade, mais imediata e menos custosa. É o manejo florestal. A Caatinga tem uma característica única: se bem manejada, ela se regenera em cerca de 90%. O corte pode ser feito em sistema de rodízio, raso mesmo, e em poucos meses a nova geração de plantas já alcança mais de um metro, como se fosse uma versão biológica de Morte e Vida Severina. Foi o que nos ensinou Francisco Campello, engenheiro florestal que integra a equipe técnica do GEF – Caatinga (Fundo Global para o Meio Ambiente, financiado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento).
A vantagem é que, além de criar um sistema racional para fornecer lenha às indústrias, o manejo ainda poderia criar uma importante alternativa de renda para o sertanejo, um modo de fixar as pessoas na terra, mesmo na seca. Segundo estimativas do Sindicato da Indústria do Gesso, em 2008, apenas 40% das empresas associadas se abastecem com madeira manejada ou oriunda de reflorestamento obrigatório.
Veja na galeria ao lado o ensaio fotográfico de João Correia Filho publicado na edição 18 de Página 22. E, ainda, a reportagem “Antes de tudo, forte“, com mais informações e curiosidades sobre a Caatinga.