Quando a baquelite, o celulóide e outros plásticos pioneiros começaram a invadir o mercado, na virada do século XIX para o século passado, produziram uma pequena revolução. Aquele material maleável, capaz de incorporar todas as cores do arco-iris e todas as formas concebíveis, era mais leve e barato do que seus concorrentes de metal ou fibras vegetais.
Com o tempo, verificou-se que esse material fascinante tem suas inconveniências. Boa parte do plástico que utilizamos é empregado uma única vez e depois descartado. Pense em canudos, embalagens de fast-food e outros alimentos, sacolas de supermercado, garrafas de água mineral.
Também há crescentes evidências de que alguns tipos de plásticos podem eliminar poluentes orgânicos persistentes se aquecidos ou mesmo quando estão em temperatura ambiente. Escrevi a respeito recentemente.
Agora, podemos viver sem plástico? Minha amiga Kyce Bello está disposta a provar que sim. Em seu blog, Old Recipe for a New World (Receita Antiga para um Mundo Novo), ela conta como ela, o marido professor e a filha de dois anos estão revendo todas as suas compras para incorporar a meta de plástico zero. O projeto-piloto, iniciado em janeiro, tem previsão de durar quatro meses, inicialmente.
Na foto acima, ela expõe todo o plástico que a família adquiriu no mês passado (tampas do leite que vem em garrafas de vidro, embalagem de pirulito, elásticos que envolviam vegetais, etiquetas que vieram grudadas em frutas).
Para conseguir reduzir assim a sua cota de plástico, Kyce passou a comprar tudo a granel. No mercado, coloca grãos, verduras e legumes em sacos de pano que ela mesma costurou. Passou a fazer pão, biscoitos, queijo e iogurte em casa. Compra papel higiênico em embalagens individuais, mas também cortou pedaços de pano, que são usados e lavados. Ela garante que eles são menos estranhos do que parecem.
Kyce, que é enfermeira mas deixou de trabalhar quando teve a filha Cora, diz que a família reduziu seus gastos graças ao novo modo de vida. Ela admite, porém, que ele toma muito mais tempo e dificilmente será viável no dia em que ela tiver um emprego.
Além da disponibilidade de tempo, Kyce se beneficia do fato de que Santa Fe tem uma enorme população neo-riponga, natureba e engajada. Aqui ela consegue pasta de dente em embalagem de metal, leite e iogurte em garrafas de vidro e uma longa lista de etceteras que não são facilmente encontrados no Brasil.
Por fim, ela se beneficia do fato de ter um carro. Alguém que, como eu, não dirige ou não quer queimar combustível, tem mais dificuldade de bater perna atrás de produtos específicos, carregar sacos de farinha ou as embalagens de casa.
Perguntei se alguém que trabalha ou que não tem carro poderia seguir os seus passos. Ela garante que sim. “Quando comecei este jejum de plástico, achei que seria impossível. Alguns poderiam dizer que ter uma filha pequena seria um grande problema. Mas, no fim, percebi que a única coisa que dificultava a minha vida era o meu modo de pensar – a minha dependência de alimentos embalados e a minha ignorância a respeito de outros modos de vida”, diz.
Pessoalmente, comecei a retirar o plástico da minha vida recentemente. Recuso sacolas de supermercado, parei de comprar acessórios de cozinha plásticos, evito brinquedos plásticos (essa se mostra uma decisão muito difícil de cumprir) e tenho dado preferência ao granel e aos produtos da feira. Mas o caminho à frente é longo, muito longo.