Uma derrota e uma complicação no mundo dos cálculos de carbono, esta semana. O presidente francês Nicholas Sarkozy cedeu à pressão do lobby empresarial e desistiu de cobrar taxas sobre as emissões do seu país. Foi uma tristeza…
Essa era uma das legislações climáticas mais promissoras do mundo, mais simples e confiável que o cap-and-trade e ainda com um toque de mestre: todo dinheiro recolhido por esses impostos seria devolvido à população na forma de um “green check”. A decisão da cúpula francesa agora é esperar pela União Européia, em lugar de lançar regras unilaterais.
A complicação é que um dos argumentos da China para não reduzir emissões ganha ares de incontestável. Um estudo do Carnegie Institution of Washington calcula que mais de um quinto do carbono emitido no país em 2004 foi na verdade exportado na forma de bens e serviços. No mesmo ano, 23% de todas as emissões mundiais trocaram de mãos no comércio internacional.
Se os cálculos de carbono levassem em conta o local de consumo e não de produção, o mapa dos maiores poluidores do mundo poderia ser diferente. A China seria na verdade o tapete para baixo do qual os países ricos varreram a sua própria poluição. Ninguém gosta de dar razão aos chineses em assuntos climáticos, mas essa é difícil de contestar.
Em entrevista à Página 22, José Eli da Veiga fala sobre a imprevisibilidade do argumento chinês nas negociações climáticas e de comércio internacional. E ainda explica porque a ideia da taxa sobre carbono na França poderia ser até melhor que o cap-and-trade americano.