A nova secretaria-executiva da Convenção do Clima é costarriquenha. A diplomata Christiana Figueres substituirá Yvo de Boer, que pediu demissão no ano passado após o fracasso da reunião de Copenhague. A gente não sabe quase nada sobre ela, mas ficamos animados com a novidade, porque é justo que seu país ganhe destaque, bem como a história que se segue.
Pouco antes da COP15, quando começou a corrida das metas de redução de carbono para todos os grandes países, ninguém mais se lembrava que o ganhador já tinha se anunciado muito antes. O compromisso da Costa Rica (lá em 2007, salvo engano) foi cabal de largada: zero carbono. O prazo estipulado foi 2021.
Parece impossível? Pois em matéria de energia limpa, essa nação pequenina é gigante. O caminho vem sendo empreender um esforço de reflorestamento inédito no mundo, de forma que as florestas sejam capazes de reabsorver, por meio da fotossíntese, todo carbono gerado no país.
A Costa Rica vem perseguindo esse objetivo desde o início dos anos 80, quando o governo passou a remunerar empresas e proprietários rurais que garantissem a conservação dos recursos naturais. É a história dos pagamentos por serviços ambientais, tema da edição de número 1 de Página 22 – a gente já achava uma baita novidade, mas para a Costa Rica era notícia velha.
A terra devastada para dar lugar ao café e ao gado foi sendo gradativamente recuperada e hoje a vegetação natural ocupa 52% do território. O ecoturismo, como se pode imaginar, é um baita componente da economia e os parques nacionais respondem por quase 6% do PIB.
E tem muitos outros atributos com os quais a Costa Rica pode esnobar o mundo inteiro: não tem exército, os ministérios de Meio Ambiente e Minas e Energia são brilhantemente a mesma pasta (veja entrevista exclusiva que fizemos com o ministro em 2006), e a participação de energias renováveis na matriz elétrica deles bate 98%, uma marca que deixa até o Brasil no chinelo.
Nesse rumo de carbono zero nem o espaço urbano escapa. A capital San José vem sendo revitalizada pelo projeto Floresta Urbana, que além de compreender mais parques e praças, recobre muros, calçadas e postes de um tecido vegetal. Também falamos sobre isso na reportagem Semear cidades (leia mais no box “Trama verde” ao pé da página).
Enfim, desejamos toda sorte do mundo a Christiana Figueres! Ela vai precisar…
Em tempo: Depois da Costa Rica, outras nações miúdas se comprometeram com a meta de zerar emissões, como Mônaco, Islândia e Noruega. A ONU mantém uma rede de países e cidades em torno desse objetivo.