Com exceção de algumas especulações, pouco tem sido publicado sobre o que a British Petroleum (BP) poderia ter feito para evitar o que talvez seja o maior acidente da história da exploração petrolífera. Em matéria veiculada pelo portal americano Climate Progress, foram divulgadas algumas informações ainda não reveladas pela BP. Um repórter do programa 60 minutes, da CBS, entrevistou especialistas que afirmam que a principal causa do acidente foi a negligência com os equipamentos envolvidos na extração do óleo.
Segundo Robert Bea, professor da Faculdade de Engenharia da Universidade da Califórnia, o problema começou com a própria área explorada, com um solo bastante instável e heterogêneo. A empresa, além de realizar a perfuração sem preparação técnica suficiente para contornar essas condições, teria concluído os trabalhos em muito pouco tempo, o que tornaria o projeto ainda mais passível de problemas. Bea já investigou mais de 20 vazamentos em plataformas de petróleo e foi contratado pela Casa Branca para ajudar na análise das causas do desastre do Golfo do México.
Outro problema apontado seria a falta de manutenção preventiva nos equipamentos subaquáticos. Ken Abbott, ex-gerente de operações na BP, afirmou que, na época em que trabalhava na companhia – há dois anos –, cerca de 89% das tubulações não eram checadas constantemente. Além disso, 95% dos equipamentos de extração nunca haviam sido verificados ou submetidos a testes depois que entraram em operação.
Abbott alertou a companhia sobre a necessidade da manutenção e o risco de acidentes, mas foi, segundo ele, “pressionado e repreendido” a abandonar essas ideias. Meses depois, foi demitido.
Outra polêmica levantada refere-se à vazão de óleo que vem sendo expelida desde o dia da explosão. A BP ainda não conseguiu estancar o vazamento que, segundo dados oficiais do geverno e da própria companhia, alcança o correspondente a 5.000 barris diários. Mas cientistas estudaram as imagens do petróleo jorrando e deduziram um valor muito maior: estimam que 25.000 a 80.000 barris estejam sendo lançados no mar a cada dia. Esses últimos resultados corresponderiam proporcionalmente, em uma só semana, a dois acidentes como o da Exxon-Valdez, ocorrido em 1989 e considerado o mais grave da história petrolífera.
A BP tem se recusado a usar instrumentos mais sofisticados na detecção do volume de óleo em vazamento. Segundo Tom Mueller, porta-voz da companhia, “não podemos fazer qualquer esforço extra para calcular o fluxo lá neste momento. Não é relevante para o esforço de resposta, e pode até prejudicá-lo”.
O The New York Times reportou, na semana passada, uma enorme crosta de óleo em águas profundas com cerca de 16 km de comprimento, 5 km de largura e 90 metros de espessura, em alguns pontos. A descoberta dessas “bolhas” pode ser uma das provas de que o vazamento seja bem maior do que o anunciado pela BP e o governo. “Há uma quantidade enorme de petróleo em camadas múltiplas, três, quatro ou cinco camadas mais profundas da coluna d’água”, revela Samantha Joye, pesquisadora da Universidade da Geórgia.
O efeitos da concentração do petróleo já estão sendo sentidos pelas populações do litoral dos Estados Unidos, principalmente nos estados da Flórida, Alabama, Mississipi e Louisiana. Pescadores contratados pela BP para ajudar na captação e neutralização do óleo da superfície têm apresentado problemas de sáude decorrentes da alta exposição ao mineral. A BP assegura que não há necessidade de uso de respiradores ou outros equipamentos de protecção – mesmo com a forte atividade de vapores de hidrocarbonetos e dispersantes químicos pulverizados sobre o óleo.
A Agência de Proteção Ambiental (EPA) dos Estados Unidos, no entanto, tem medido constantemente a qualidade do ar em uma comunidade costeira da Louisiana e detectado que os níveis de substâncias tóxicas, como sulfeto de hidrogênio e benzeno, já excederam, em algumas áreas, o limite de segurança para a exposição humana.
Veja ao lado a primeira parte do programa 60 minutes, com reportagem sobre as prováveis causas do desastre no Golfo do México.