O tamanho da população humana sobre a Terra é um daqueles problemas considerados como um elefante na sala, tão grande que é impossível ignorá-lo, tão intratável que todos fingem não vê-lo. Mas, desde dezembro, se você quiser botar o elefante de dieta e contribuir para reduzir a população humana e seu impacto sobre o clima do planeta, pode comprar um PopOffset. Isso mesmo, compensar suas emissões de carbono ao ajudar a população mundial a crescer menos.
Segundo o Optimum Population Trust (OPT), uma organização de caridade britânica que trabalha para que cheguemos à “população sustentável” e está por trás do projeto, compensar sua pegada de carbono com ações de planejamento familiar, saúde reprodutiva e educação sexual é um terço mais barato do que outras opções de offset. “Além do mais, outras soluções energéticas, embora reduzam as emissões de CO2 em comparação à queima de combustíveis fósseis, têm impactos ambientais indesejados”, diz o site do PopOffset. Enquanto que “uma pessoa que não existe não pode produzir CO2”.
Para compensar o total de minhas emissões em um ano vivendo na Austrália, o site usa as emissões per capita dos habitantes do país – 16,2 toneladas por ano – e assume que US$ 8,5 gastos em planejamento familiar podem evitar a emissão de 1 tonelada de CO2. Adiciona US$ 1,5 em custos administrativos e chega à conclusão de que eu teria que pagar um total de US$ 137,70. O valor iria para projetos de planejamento familiar que a OPT apóia em países em desenvolvimento. Se ainda morasse no Brasil, onde as emissões per capita segundo o site são de 1,8 tonelada por ano, o valor da minha compensação seria uma barganha, apenas US$ 15,30.
O próximo passo é escolher uma de várias formas de pagamento, apertar o botão e esperar que o offset seja colocado em prática o quanto antes. Necessidade por planejamento familiar e educação para mulheres não falta, mesmo quando a pílula anticoncepcional completa 50 anos. O site do PopOffset cita um estudo de 2009 que mostra que mais de 200 milhões de mulheres sexualmente ativas em países em desenvolvimento não querem engravidar, mas não dispõem de métodos anticoncepcionais.
Apesar da racionalidade do argumento – menos gente, menos emissões de gases de efeito estufa –, não falta polêmica. A crítica mais comum é a de que os países ricos, tendo controlado a própria taxa de fertilidade, agora querem ditar às nações pobres regras sobre população. Há também o fato de que a maior parte das emissões globais é produzida nos países ricos, e faria mais sentido atacar as atividades ali do que controlar a população nas nações mais pobres. Os responsáveis pelo PopOffset rebatem que tal raciocínio assume que os pobres estarão sempre na pobreza e apontam que “não se pode reduzir a pobreza em lugar algum sem usar mais energia, derivada primariamente da queima de óleo, gás, carvão ou madeira e, portanto, sem produzir mais gases de efeito estufa”. Por isso, argumentam, faz sentido o investimento em planejamento familiar. Há também que cuidar para não ofender preceitos religiosos e rebater as acusações de que planejamento familiar e aborto são a mesma coisa.
Na minha opinião, oferecer informação e contraceptivos para mulheres onde quer que seja para que possam decidir sobre seu futuro é tudo de bom. O ponto mais complicado do PopOffset não é o pop, mas o offset. Mais ou menos como dar carta branca para que os habitantes dos países ricos continuem sua vida “as-usual” porque alguém, em algum lugar, deixou de ter mais um filho – ou plantou uma árvore. Equivale a ignorar que há mais do que um elefante na sala.