Assim como a tecnologia transforma a relação entre as pessoas – pense Facebook, Twitter e outros –, ela pode ajudar a forjar uma nova maneira de o cidadão interagir com seus representantes eleitos e, por que não, participar de suas gestões. É o que apostam os defensores do Governo 2.0, entre eles o presidente americano Barack Obama, que prometeu criar “uma democracia transparente e conectada” e lançou a Open Government Initiative.
Aqui na Austrália, o governo federal está prestes a declarar-se aberto. Acatou 12 das 13 recomendações feitas por uma força-tarefa que analisou maneiras de aumentar a transparência do governo – por exemplo abrindo o acesso a informações – e encorajar o engajamento dos cidadãos. Em maio, anunciou a devolução aos cidadãos das estatísticas levantadas pelos censos, ao colocar todos os dados sob licença Creative Commons (CC). Isso quer dizer que qualquer pessoa pode usar tais dados, inclusive para fins comerciais, desde que citada a fonte.
Outra peça importante colocada sob licença CC foi o orçamento de 2010, anunciado em maio. “Significa que todo o material que ele contém – a estratégia para o déficit, os agregados fiscais, as respostas do governo para a crise econômica – está disponível para reuso, por qualquer pessoa, para qualquer fim, desde que a fonte seja atribuída”, explica o site do CC na Austrália. Ao que parece, a Austrália é o primeiro país do mundo a adotar licenças alternativas para seu orçamento.
Você pode até duvidar que alguém vá reutilizar as estratégias orçamentárias do governo, mas lembre-se que a própria internet e o GPS (Global Positioning System) nasceram como projetos estatais nos Estados Unidos. Tratam-se de investimentos públicos que detonaram inovações no setor privado, destaca o americano Tim O’Reilly – que cunhou o termo web 2.0 para designar a internet participativa em que o usuário pode não só fazer o download, mas também o upload de dados. Segundo O’Reilly, a ideia por trás do Governo 2.0 é que ele atue como “plataforma”, dando condições para que os cidadãos adicionem valor e multipliquem o impacto de suas ações e políticas.
Atividade na seara tecnológica não falta, com empresas e indivíduos aproveitando a onda de abertura e desovando todo tipo de software e aplicação – tanto que a revista BusinessWeek chamou o Gov 2.0 de o “próximo boom” da internet. Mas para alguns observadores dessa onda, para que o Governo 2.0 seja bem sucedido, é fundamental que ele venha acompanhado de um outro movimento: o Cidadão 2.0, em que o engajamento cívico é incentivado e praticado abertamente.