Provavelmente não, segundo a pessimista Heather Rogers, autora de “Green Gone Wrong: How Our Economy Is Undermining the Environmental Revolution”, que acaba de sair nos Estados Unidos. O livro – que poderia ser traduzido como “O Verde que não deu Certo: como a Nossa Economia está Minando a Revolução Ambiental” – discute como os negócios com foco na sustentabilidade muitas vezes descarrilam devido às forças do mercado. Para Rogers, o modelo capitalista focado no crescimento constante compromete a virtude desses projetos. “Quando grandes empresas, como a General Mills, Kraft ou o Wal Mart impõem um aumento na escala da produção de orgânicos e exigem uma oferta de produtos constante e uniforme, têm de sair pelo mundo em busca de fornecedores”, explica a autora, numa entrevista (em inglês) dada na semana passada à rede pública de rádio e TV PBS.
Essa demanda impõe, por exemplo, o desmatamento de matas nativas para a expansão das culturas – veste-se um santo mas deixa-se outro pelado. Rogers cita o exemplo de uma produtora de açúcar orgânico do Paraguai que abastece um terço do mercado norte-americano. Para conseguir atender seus clientes, a empresa teve de entrar mata adentro – e as normas norte-americanas não vêem aí nenhum problema. Ela cita também o caso da Organic Valley, a maior cooperativa orgânica s e uma das maiores produtoras de laticínios orgânicos dos Estados Unidos, que teve que interromper as suas vendas para o megavarejista Wal-Mart porque teria de multiplicar sua escala de produção, comprar de grandes produtores industriais e reduzir a qualidade do produto e do serviço.
Além disso, a autora argumenta que o sistema vigente torna a produção orgânica inviável economicamente. Ela entrevistou uma série de pequenos produtores que não estão conseguindo alcançar a estabilidade financeira. Ela exemplifica com o caso de um produtor rural que só ganha US$ 7 por hora, mesmo cobrando US$ 14 por uma dúzia de ovos. Segundo ela, ele não é uma exceção. “Segundo o USDA (Departamento de Agricultura dos EUA)”, diz Rogers durante a entrevista, “de 85% a 95% da renda desses produtores vêm de outras fontes, como o trabalho para terceiros, herança ou a renda do cônjuge. Esse modelo de produção pode ser ambientalmente sustentável, mas não o é economicamente, porque demanda muito mais trabalho e porque, para se produzir localmente, é preciso estar perto de uma área de população adensada, onde a terra é muito mais cara. Por fim, esses produtores também não têm muito apoio do USDA, que destina apenas 2% do seu orçamento de pesquisa para a produção orgânica. E a extensão e o crédito rurais também são muito mais focados na produção convencional”. Tudo isso faz com que o produto final seja muito caro. Embora os Estados Unidos vivam um boom de “farmers markets” – feiras em que os produtores oferecem alimentos locais e orgânicos à população -, esse tipo de comércio não poderá crescer indefinidamente, porque seus preços são inacessíveis à maior parte da população.
Para Rogers, a agricultura orgânica é válida e merece incentivos – mas é improvável que esse modelo venha a se tornar dominante.