A ideia por trás da cenoura-ou-porrete é que para levar as pessoas a agir em benefício de um grupo, e não apenas por interesse próprio, é preciso incentivar o bom comportamento ou penalizar o mau. O fato de que o incentivo, ao pé da letra, é uma cenoura, dá o que pensar, uma vez que pessoas e cavalos estariam na mesma categoria. De qualquer forma, sem a tal cenoura, o indivíduo praticaria boas ações somente como forma de retribuir uma boa ação feita a ele. Seria possível que o ser humano opte por ser bom sem cenoura, porrete ou reciprocidade?
A internet está cheia de exemplos em que as pessoas colaboram voluntariamente, sem receber pagamento ou boa ação em troca. Pense na Wikipedia, em que as intervenções dos voluntários beneficiam o conjunto dos usuários da enciclopédia, mas ninguém em particular. Para testar até que ponto vai essa forma de agir, uma dupla de artistas americanos criou o The Stranger Exchange, um exercício em que anônimos doam coisas a outras pessoas sem necessariamente receber algo em troca.
A ideia foi posta em prática em uma região central da cidade de Boston, em frente a um conhecido café. Para executá-la, os artistas usaram uma caixa daquelas em que – em quase todas as esquinas nas cidades dos países ricos – é possível depositar moedas e retirar um exemplar de jornal. Só que ali qualquer um pode depositar um item – livros, CDs, DVDs, fotografias, souvenires, o que for – para qualquer um retirar. E a caixa incentiva doadores e receptores a visitarem um website para contar a experiência.
Além de livros e DVDs, os artistas relataram ter encontrado, em visitas dia-sim-dia-não à caixa, desenhos de próprio punho e até CDs gravados especialmente para dar… a um estranho. E nunca encontraram nada que não fosse uma legítima doação. O legal do The Stranger Exchange é que os estranhos, provavelmente, são vizinhos, pois circulam pelo bairro e prestam atenção a uma caixa nova que aparece na esquina. É quase que uma comunidade virtual com um pé bem fincado no mundo real – e local.