Já se foi o tempo em que o carro elétrico era só coisa de filme futurista ou estrela de algum salão de automóveis famoso. Países como Estados Unidos e Japão, sem contar os europeus, já inauguraram a produção em série desses veículos e estão apostando bilhões de dólares nessa alternativa ao uso de petróleo. Mas e o Brasil? Por que o carro elétrico ainda não “arrancou” num País que almeja se tornar um dos líderes da preocupação ambiental?
Para Lincoln Paiva, especialista em mobilidade e diretor da consultoria Green Mobility, a alta rentabilidade que o mercado do petróleo ofereceu nas últimas décadas fez com que os países investissem cada vez mais em novas tecnologias para explorá-lo. A pesquisa brasileira convergiu para esse caminho, abandonando fontes alternativas ao petróleo. Mas a previsão do esgotamento das reservas, aliada ao movimento de preocupação com o aquecimento global, chamou os países a repensarem suas estratégias. Qual foi a saída do Brasil? Ressucitar a tecnologia do etanol, que, embora emita menos gases estufa, trabalha com o mesmo motor a combustão.
Levando isso em conta, as montadoras não viram viabilidade econômica suficiente para mergulhar no mercado dos veículos elétricos. “As empresas investiram pesadamente nessas tecnologias. Qualquer novidade é, no começo, fruto de muita análise de viabilidade e risco. Por isso elas têm o receio de apostar em algo ainda novo”, revela.
Mas o especialista ressalta que, principalmente nesse primeiro momento de amadurecimento, é preciso enxergar o carro elétrico mais como alternativa a meios de transporte mais específicos, como os ônibus urbanos, e não como algo que substituiria toda a frota. Várias cidades da Europa já estão adotando a ideia, caso de Madri, que não comprará mais coletivos movidos a diesel ou etanol. A partir da próxima licitação, só serão admitidos ônibus elétricos.
Outra possibilidade é a utilização do carro híbrido, que trabalha tanto com o motor a explosão quanto com a bateria elétrica. Em longas distâncias, o trabalho ficaria com a gasolina ou o etanol, que podem oferecer maior potência e percorrer maior distância sem abastecimento. Os trajetos curtos, principalmente os urbanos, ficariam por conta das baterias, capazes de oferecer uma velocidade que pode ultrapassar os 100 km/h, muito além do que a maioria das vias das cidades permitem.
Os estudos do governo sobre o carro elétrico têm sido bastante modestos e se concentram em definir medidas mais pontuais, como a redução do IPI sobre a produção. “Paralelamente à tecnologia, precisamos pensar na infraestrutura energética para abastecer esses carros”. Isso não impediria no entanto, de promovê-lo no transporte de curtas distâncias e a médias velocidades. “Teríamos nas cidades uma ótima alternativa ao petróleo, ao etanol e ao gás natural”, completa.
Paiva ainda sinaliza que a discussão sobre o veículo elétrico deve vir acompanhada da preocupação com a mobilidade nas cidades. Nos estados Unidos e em vários países da Europa – como Reino Unido, França e Alemanha –, os governos têm desenvolvido programas para estudar o deslocamento dos habitantes de suas cidades a fim de identificar as principais demandas e, assim, preparar todos os transportes para funcionarem com mais eficiência. “Os carros devem voltar a ser a solução e não o problema para o deslocamento nas cidades. E para isso o volume do tráfego precisa diminuir”, completa.