Há quase cinco bilhões de telefones celulares em atividade – e eles estão mudando a vida de localidades remotas, sem acesso a estradas, água tratada ou latrinas decentes.
Ao longo da última década, a África se consolidou como o maior mercado de expansão de telefonia móvel. Pelo menos um em cada três africanos tem um celular (embora as estatísticas variem muito de país para país). Relativamente baratos, altamente portáteis e resistentes, eles representam a revolução tecnológica para quem jamais viu um computador pessoal. E isto está mudando a forma como o continente se comunica.
Nas zonas rurais, pescadores e agricultores estão incrementando seus negócios, contatando clientes potenciais e monitorando a demanda por seus produtos. Os postos de saúde mandam lembretes aos portadores do HIV na hora em que eles têm de tomar seus medicamentos. Há serviços que informam os trabalhadores sobre ofertas de emprego compatíveis com o seu perfil. Os celulares estariam inclusive melhorando a taxa de alfabetização dos africanos, porque muitos estariam interessados em aprender para poder enviar torpedos.
O celular também está sendo usado como um jeito barato e seguro para fazer remessas de dinheiro. Uma senha é enviada para quem vai receber o dinheiro e este é retirado numa loja especializada, como se fosse um guichê de banco. O exemplo mais bem-sucedido desse modelo é a Safaricom, do Quênia, que em apenas três anos atraiu 7 milhões de clientes e já movimenta algo em torno de 10% do PIB do país.
Mas até que ponto o acesso aos celulares estaria efetivamente mudando a vida dos africanos? Dois economistas, o queniano Isaac Mbiti (da Southern Methodist University, de Dallas, EUA) e a norte-americana Jenny Aker (da Tufts University, de Massachusetts), acabam de publicar um estudo em que afirmam que os telefones não operam milagres quando a infraestrutura é insuficiente. Eles vêem evidências de impactos econômicos positivos, mas estes seriam bastante localizados. “É ótimo que um produtor rural possa levantar a cotação do feijão, mas se ele não conseguir chegar ao mercado para vendê-lo porque não há estradas, a informação de pouco lhe serve”, diz Mbiti. “Celulares não podem substituir coisas de que você precisa para alcançar o desenvolvimento, como estradas e água corrente”. Os pesquisadores lembram que, na África Sub-Sahariana, só 29% das estradas são pavimentadas e apenas 25% da população tem acesso à eletricidade.
É verdade, comunicação não é tudo. Mas o fenômeno da telefonia celular africana é uma ótima notícia que vale a pena acompanhar de perto.