Vida dura têm as cobaias de laboratório. A cada ano, entre 50 milhões e 100 milhões de animais vertebrados são empregados em testes laboratoriais, dissecções e vivissecções promovidos por universidades, centros de pesquisa e indústrias químicas e farmacêuticas. Eles são espetados, queimados, deixados à míngua, impedidos de dormir e submetidos a outros procedimentos que não desejaríamos a nossos desafetos.
É um sacrifício cruel, sim, mas que tem sido, ao longo dos séculos, essencial para o avanço da Ciência e da Medicina.
O Laboratório de Pesquisa Animal da Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos, um dos defensores dessa prática, argumenta em uma de suas publicações que ainda não há computadores capazes de criar modelos que reproduzam a alta complexidade das interações entre moléculas, células, outros organismos e o meio ambiente. Assim, argumenta a organização, a pesquisa com animais terá de continuar.
Mas há cada vez mais soluções tecnológicas que permitam dispensar o uso de cobaias. Segundo artigo da última edição da revista de divulgação científica Scientific American, pele humana produzida em laboratório já está sendo usada para verificar se novos cosméticos e produtos de limpeza oferecem riscos de irritação da epiderme.
Em julho, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que define os métodos de análise da segurança química dos produtos vendidos nos seus países-membros (os mais ricos do planeta), aprovou a utilização de três modelos comerciais de pele humana gerada in vitro. Em 2004, modelos similares já haviam sido aprovados para testes de corrosividade.
A tecnologia avança em conjunto com as normas internacionais de modo a reduzir, progressivamente, o sacrifício de animais de laboratório. Um dos principais avanços dos últimos tempos ocorreu no ano passado, quando a União Europeia lançou uma diretiva proibindo testar cosméticos e seus ingredientes em animais sempre que houver métodos alternativos, salvo umas poucas exceções. A diretiva europeia também se aplica a cosméticos importados para comercialização na região.
Este assunto é pouquíssimo abordado pela imprensa brasileira. Por isso, espero voltar a discuti-lo aqui em breve.