Parece que os bois continuam a farrear na Amazônia. No primeiro aniversário do compromisso de desmatamento zero, as dificuldades de controle da procedência da carne ainda têm permitido que as gôndolas dos mercados continuem tomadas dos filés à silvestre, pré-tostados pelas queimadas da Amazônia.
Segundo Márcio Astrini, do Greenpeace, supermercados que anunciaram no ano passado o plano da moratória com o ministro Carlos Minc continuam vendendo carne ilegal. A moratória do boi, liderada pela ONG e firmada pelos principais frigoríficos e grupos varejistas, estabeleceu que nenhuma dessas empresas compraria carne de fazendas que desmatassem suas florestas, estivessem sob acusação de trabalho escravo ou ocupassem terras indígenas ou áreas de conservação ambiental.
Para o coordenador da Campanha Amazônia da ONG, o velho e conhecido problema da falta de regularização fundiária ainda tem sido o maior entrave à fiscalização da origem dos animais. “A pressão sobre os varejistas já existe, mas muitos ainda continuam comprando de frigoríficos atendidos pelas fazendas ilegais”, revela.
O desafio seria impedir que as fazendas embargadas vendam para frigoríficos menores e esses repassem a carne aos supermercados. Os menores custos da cadeia ilegal acabariam incentivando esses negócios. Segundo Astrini, a próxima estretégia do Greenpeace, ainda não revelada, terá como foco justamente os supermercados. Até agora, a moratória já rendeu a suspensão de 221 fornecedores, além do monitoramento de 1.770 propriedades e o cadastro de cerca de 12.500.
No entanto, o coordenador enfatiza que ainda há muito por fazer. No Pará, por exemplo, dados do Imazon mostram que, de cerca de 200 mil fazendas – não é possível precisar o número –, apenas 69 têm licença ambiental. Outro problema é o subdimensionamento das propriedades, que pode acabar servindo ao oportunismo daqueles que usam a porção fantasma para criar os animais. No final, tudo parece estar dentro da lei: criação de bois em terra regularizada. O único detalhe é que, muitas vezes, a parte registrada em cartório chega a ser 50, 100 vezes menor do que o tamanho real da propriedade.
“O Amazonas é um dos estados em que mais tem aumentado o desmatamento e é o mais deficiente em cadastro ambiental rural”. Segundo Astrini, a moratória estabelecia que o governo aumentasse sua atuação sobre a regularização de terras e a fiscalização das porções já registradas. No entanto, todo o processo ainda estaria sendo conduzido de forma muito lenta.
“Temos que empreender uma verdadeira mudança na forma de produzir, na relação entre carne e desmatamento. O mercado precisa que o governo se mexa mais”, afirmou.
A apresentação do Greenpeace sobre os resultados da moratória do boi foi parte do seminário Rumo às Baixas Emissões de Gases de Efeito Estufa na Agropecuária Brasileira, organizado pelo IPAM e pelo GVces.