Que a biodiversidade vai mal, ninguém tem dúvidas, mas dá só uma olhada na velocidade com que estão ocorrendo todas as perdas. Só nos últimos 40 anos, houve uma diminuição de 30% das populações animais e vegetais conhecidas. A situação é mais grave nos países tropicais: nesse mesmo período, a marca é de 60%. As conclusões são do Relatório Planeta Vivo, da WWF, lançado na última quarta-feira (13).
Segundo o estudo, o impacto sobre essas populações se deveu principalmente à crescente necessidade de recursos naturais, principalmente depois da ascensão dos países emergentes. A demanda por recursos duplicou desde 1966 e hoje chega a exigir o equivalente a um planeta e meio. Além disso, se os níveis de consumo mantiverem a mesma tendência, em 2030, precisaremos de duas Terras para satisfazer toda a produção industrial e agrícola.
Os resultados mostram, no entanto, valores bastante diferentes quando o foco são as regiões temperadas. Desde 1970, essas áreas foram as que verificaram os aumentos mais significativos de territórios recuperados e em preservação de espécies. No entanto, se o tempo de análise fosse estendido – em vez de décadas – a séculos atrás, o resultado provavelmente seria bastante diferente, uma vez que muitos desses países destruíram – se não toda – grande parte de suas coberturas florestais a partir do boom da revolução industrial.
Pegadas
O relatório relaciona o Índice Planeta Vivo, que indica a saúde das espécies, com a pegada ecológica e a pegada hidrológica dos países, elaborando a perspectiva sobre o impacto em relação aos recursos naturais e ao uso da terra. Segundo o estudo, nos últimos 50 anos, só a pegada do carbono cresceu onze vezes e hoje representa mais da metade de toda a pegada ecológica, cujo ranking é liderado – do 1º para o 5º lugar – por Emirados Árabes Unidos, Catar, Dinamarca, Bélgica e Estados Unidos. O Brasil ocupa a 56ª posição.
Causa, inclusive, um certo estramento que a liderança não seja ocupada pela China ou os Estados Unidos, ou ainda por verificar a Dinamarca com o terceiro maior valor. Pode parecer que há algo de errado na lista, mas a questão são os critérios usados no cálculo da pegada ecológica.
A conta mede o impacto humano em uma certa região a partir das quantidades de terra e água necessárias à obtenção de tudo o que é consumido e à absorção dos resíduos gerados. Apesar dos exemplos em políticas de controle de emissões e geração de energia limpa, é aí que aparece o calcanhar do país escandinavo: o alto consumo, muito além do que poderia equilibrar com seus próprios recursos naturais.
O cálculo ainda fecha com outro saldo bastante ingrato: como grande parte do que é consumido não é produzido internamente, a degradação ambiental acaba sendo “exportada” para outros países (mais sobre o cálculo da pegada ecológica aqui).
No ranking da pegada hidrológica, que indica o uso de água na produção agrícola e industrial, a situação parece um pouco mais alarmante para o Brasil. Apenas Índia, China e Estados Unidos estão à nossa frente, países muito mais extensos e com populações bastante maiores.
“As maiores repercussões de nossa pegada hidrológica sobre os ecossistemas de água doce em nível global incluem o aumento da fragmentação dos rios, a captação excessiva e a poluição da água. Os impactos iminentes da mudança do clima podem agravar em muito a situação”, conclui o estudo.
Essa é a primeira vez que o relatório foi traduzido integralmente para o português. Para acessá-lo na íntegra, clique aqui.
Mais sobre a interdependência de florestas com manaciais de água na matéria “Água ainda com divisores”, da edição 29 de Página 22.