A FGV foi uma das universidades que tiveram alunos convidados a participar do Fórum de Sustentabilidade do festival SWU, realizado no início de outubro. O evento se propunha a ser sustentável, um desafio gigantesco para um festival desse porte. Alguns jornalistas estiveram por lá e fizeram críticas sobre a falta da tão alardeada sustentabilidade. Uma dessas matérias é da Revista Sustentabilidade.
Abaixo, Pedro Canellas, integrante do GVces e aluno da EAESP, faz uma reflexão sobre greenwashing e inovação a partir daquela matéria e de sua experiência no festival:
Concordo 100% com as afirmações do texto. Gostaria de complementar e no final colocar uma pequena conclusão:
Além dos problemas elencados, é importante lembrar que a garrafinha de água vendida a R$4 era uma nova versão de garrafinha que a Nestlé tem vendido em clara estratégia de aumento de margem de lucro. Na garrafa cabem uns 330 ml se a garrafa fosse de 500 ml, aplicado um preço proporcional, ela custaria meros R$7. Não estou lembrado de pagar isso por água em lugar nenhum. Fiquei também impressionado com a grande variedade de geradores elétricos à diesel que estavam espalhados por todo o evento e soltavam uma fumaça horrível no ar.
Outro ponto foi o Fórum Global de Sustentbilidade. Ele deu pouco espaço para debate e mal permitiu que fossem respondidas as perguntas feitas aos palestrantes. O Fórum era minúsculo para um evento deste porte, restrito a pequeno número de convidados, sem se preocupar em transmitir o conceito de sustentabilidade para um público mais amplo. Poderiam ter chamado muito mais gente e jovens para participar dele. Todas as informações que o fórum me passou, poderiam facilmente ter sido coletadas na internet onde eu as obteria com maior profundidade.
Conclusão: Um evento como o SWU me deixa otimista e pessimista. Otimista por que é uma tentativa de inserir sustentabilidade na temática da música pop e dos jovens, na temática que podemos chamar artística que é um dos pilares do ser humano. Pessimista por que, em muitos lugares, as pessoas que estão inserindo a questão da sustentabilidade na sociedade são pessoas desprendidas desse valor, não se identificam com ele, o que pode dar espaço para greenwashing. Mas isso tudo é ruim? É greenwashing? é fácil chamar isso de greenwashing… mas acho que não é bem isso…
O Eduardo Fisher (diretor da agência Fisher, responsável pelo evento) pode ter seus problemas de conflito de interesse, mas talvez ele esteja mudando. Antes de acusá-lo de greenwashing eu o visualizo como um cara que está por fora da sustentabilidade mas que consegue perceber essa tendência, e que tentou fazer algo sustentável, ele se esforçou para isso, e quem foi ao evento percebeu isso também (apesar dos inúmeros problemas). Não fico tão rancoroso contra o evento pois enxergo o Eduardo como uma pessoa nova nessa área, que ainda conhece pouco do tema, mas que está fazendo esforços.
É importante lembrar que apesar de seus erros (é sempre mais fácil meter o pau) o evento era um dos únicos ou talvez o único com sistema de reciclagem de latinhas e pet em tempo real, durante a realização do evento. Além de abrir espaço para artistas envolvidos com a questão da Sustentabilidade. Muitos erros mas alguns acertos também!
Um dia o SWU será movido a energia solar, terá o sistema de saneamento 100% natural e não terá garrafas pet e nem latinhas e será muito organizado! Por enquanto não é, houve muito problema e tal, mas é assim sempre que uma coisa nova/inovadora é colocada em prática. Para mim não foi greenwashing e sim despreparo, desconhecimento, que será sanado com experiência e prática que virão aos poucos com o tempo.
De modo global, o greenwashing não irá prevalecer, pois a sustentabilidade é questão de competitividade, assim, se dada empresa fica só no greenwashing, com o passar do tempo vem a concorrência e deixa ela para trás pelo caminho das eco-inovações. Além disso, a educação para a sustentabilidade será necessária e crucial para inibir e tirar o fôlego do greenwashing: no dia em que todos souberem reconhecê-la, esta prática irá deixar de gerar valores para as instituições que a praticam.
Como qualquer tendência/revolução de inserção de novos valores, o conceito/movimento de sustentabilidade está sujeita a deturpações e erros iniciais, deslizes e má-interpretações, mas no final, prevalecerá a sustentabilidade plena no que se pode chamar de “Sixfold bottom line: Econômico, social, natural, cultural, artístico e espiritual.” “Se você está empreendendo algo e você não está incorrendo em uma série de erros e obstáculos, então é bem provável que você não esteja fazendo nada muito inovador”. Woody Allen (tradução própria).
SWU foi horrível, mas tenho certeza que o próximo será muito melhor e tenho certeza também que tem muita gente tentando e querendo que o próximo seja muito melhor, inclusive o Eduardo Fischer. Até porque se o próximo SWU continuar com seus erros, ele perderá espaço, o que significa menos dinheiro no bolso dos organizadores.