Pelo menos 10 milhões de pessoas vivem em áreas cujo solo está contaminado por chumbo (metal pesado associado à redução do QI de crianças, anemia, dores musculares, perda de memória, infertilidade, dentre outros). Outros 8,6 milhões estão expostos a mercúrio, 7,3 milhões vivem em áreas contaminadas por cromo e 3,3 milhões em locais onde ocorreram acidentes com radioatividade.
Esses números são do Blacksmith Institute, uma organização não-governamental baseada em Nova York. Ela ganhou alguma notoriedade por publicar, anualmente, o relatório Lugares Mais Poluídos do Mundo a partir de um banco de dados com informações sobre mil áreas contaminadas espalhadas pelo mundo.
Os números usados pela entidade são bastante conservadores – é provável que existam mais de mil áreas contaminadas no Brasil, que dirá no mundo. No entanto, este é um levantamentamento relevante, já que, historicamente, a poluição do solo nunca teve o sex-appeal de outros problemas ambientais, como os derramamentos de petróleo no oceano ou o aquecimento global.
Se o tema despertasse a atenção que merece, você provavelmente já teria ouvido falar do Blacksmith Institute. Com um orçamento relativamente modesto – cerca de US$ 4 milhões anuais -, ele já promoveu a descontaminação de 50 áreas em vários países. Dentre eles, a bacia dos rios Marilao, Meycauayan e Obando, nas Filipinas, contaminada pelo descarte industrial de metais pesados; a zona de garimpo de ouro de Manica, em Moçambique, onde há grande descarte de mercúrio; águas subterrâneas de Kanpur, Índia; e minas de arsênico em Wenshan, na China.
No momento, a organização trabalha em 40 projetos, com destaque para uma iniciativa no estado de Zamfara, na área rural do norte da Nigéria. Trata-se de uma área contaminada pelo descarte de chumbo pelo garimpo de ouro, que já matou centenas de crianças. Além da remoção de solos, a entidade está trabalhando na educação da comunidade, para evitar que a situação se perpetue.
Segundo o Charity Navigator, uma organização que dá aos doadores elementos para avaliar a competência e a transparência das não-governamentais norte-americanas, o Blacksmith Institute é extremamente eficiente na utilização de seus recursos.
Um dos seus méritos está no emprego de técnicas muito diversas, incluindo o uso de minhocas e estrume de vaca para concentrar os contaminantes e facilitar a sua remoção. “Você pode resolver esse problema com relativamente pouco esforço porque o númer de áreas contaminadas é finito”, declarou recentemente à revista Time o fundador da organização, o consultor ambiental Richard Fuller, que já trabalhou no Brasil, num projeto de criação de unidades de conservação das Nações Unidas.