O mega bestseller Freedom, do escritor Jonathan Franzen, tem feito estardalhaço desde o seu lançamento, em agosto. Para a revista Time, Franzen é o “grande romancista norte-americano”. Os críticos do diário The New York Times derretem-se sobre a obra (aqui e aqui), que tem, como um dos seus principais personagens, Walter Berglund. Descrito como alguém “mais verde que o Greenpeace”, ele trabalha para a não-governamental The Nature Conservancy, desloca-se de bicicleta e milita na defesa de uma ave rara. Defesa tão passional que ele desenvolve tendências homicidas contra gatos devoradores de pássaros e decide vender a alma para uma empresa mineradora, em troca da proteção da espécie.
Entrevistado dias atrás pelo Grist (um website que mistura ambientalismo, jornalismo e humor), Franzen diz que a luta pela conservação de espécies ameaçadas pode levar a um “radicalismo misantrópico”. Berglund, o personagem, ilustra isso, ao atacar agressivamente a superpolução e gritar que “somos o câncer do planeta”.
O personagem fez com que uma colunista do Grist, Umbra Fisk, perguntasse aos seus leitores: você acha que enlouqueceu devido à preocupação ambiental? Ultimamente tenho desconfiado que, talvez, eu devesse vestir essa carapuça.
Às vezes gasto meia hora olhando para um papel de bala e pensando se tem alguma forma de reciclá-lo ou reaproveitá-lo. No banho, já me perguntei: abaixo para pegar o sabão (e salvá-lo de derreter) ou deixo lá, para não encompridar o banho e desperdiçar água. Já me aconteceu, também, de achar um pedaço pequeno de casca de mexerica no chão, abandonado pela minha filha, e atravessar a casa para levá-lo à compostagem. Provavelmente cruzei a barreira da sanidade muito, muito tempo atrás, embora seja uma louca bem mais mansa que Berglund.
Parece que tenho companhia, como demonstram os comentários dos leitores de Grist:
¨De certa forma, tenho tido problemas há 25 anos. Já senti desespero, depressão, falta de esperança, misantropia. Isso não fez nenhum bem para as pessoas à minha volta, ao mundo em geral e a mim mesmo. Os problemas são muito maiores do que qualquer um de nós, individualmente. A solução é fazer o que se pode e minimizar as concessões, mas sem esperar por grandes vitórias.¨(Comentário de sittingstill)
¨Eu já tive um comportamento algo psicótico. Como numa vez em que visitava a minha mãe e ela voltou da mercearia com sacos plásticos e tive um ataque de ansiedade. Mas agora, quando me sinto desse jeito, penso que a esperança nasce quando agimos para mudar algo que realmente nos apaixona, mesmo que isto seja altamente improvável. É algo poderoso! Penso nisso como uma militância desapegada.¨ (Comentário de Eco-Herbalista)
Então, eu pergunto: você já passou por isso ou conhece alguém que enfrenta esse tipo de ansiedade? O que acha das soluções desses dois comentaristas?
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