O invasorismo – a dieta baseada em espécies invasoras – é a nova tendência gastronômico-ecológica. É mais um prato no variado menu daqueles que militam à mesa.
Primeiro vieram os vegetarianos e vegans, que só ingerem produtos de origem vegetal (com variados graus de engajamento). Depois foi a vez dos devotos dos alimentos orgânicos e dos partidários do café produzido sob a bandeira do comércio justo. Nos últimos anos, duas novas correntes floresceram no Hemisfério Norte: os freegans e, mais numerosos, os locavores. Os primeiros passaram a revirar latas de lixo em busca de sua próxima refeição, não por necessidade, mas porque entendiam que o consumo de sobras reduziria o impacto de sua dieta. O segundo grupo dá preferência aos alimentos locais, que não precisam atravessar meio mundo para chegar à sua mesa.
A bola da vez é o invasorismo. Seus adeptos constróem cardápios baseados em espécies que, uma vez introduzidas em ecossistemas naturais, competem com as espécies nativas, comprometendo a sua sobrevivência.
O assunto rendeu um artigo no The New York Times na virada do ano. Ali, James Gorman conta que um grupo da Florida promoveu recentemente uma maratona de caça ao lionfish, um lindíssimo peixe zebrado com espinhos venenosos que chegou à região no início de 2009, vindo quer do Mar Vermelho, quer do Oceano Índico.
Considerado um predador de alta periculosidade, ele é capaz de devastar rapidamente cardumes locais, como fez em vários pontos do Caribe. Além disso, é o equivalente marinho do coelho: consegue botar até 30 mil ovos num espaço de quatro dias. Na Florida, multiplicou-se tanto que tornou possível a maratona de pesca, que contou com a participação de duas dezenas de times de pescadores. A competição também mobilizou chefs locais, que desenvolveram receitas à base de lionfish, rebatizado de “atum do Kentucky” para efeito de marketing.
O New York Times também menciona Jackson Landers, que ensina urbanóides a caçar por meio do seu website, Locavore Hunter. Landers propõe que adentremos as florestas e outros habitats naturais procurando porcos que se tornaram selvagens, além de tatus, iguanas e pombos introduzidos de forma irregular. Nos Estados Unidos, a lista de espécies invasoras na mira dos cozinheiros inclui também as carpas asiáticas e o kudzu, uma leguminosa rasteira cujas ervilhas podem ser utilizadas na alimentação do gado e, segundo alguns cientistas, poderiam ajudar a combater o alcoolismo.
E no Brasil, quais as possibilidades de que esse movimento prospere? Aqui vai uma lista das invasoras dos ecossistemas brasileiros. Se você tiver alguma sugestão de receita que incorpore alguma delas, divida conosco.