O apagão na região Nordeste em início de fevereiro motivou manifestações da imprensa sobre a importância de se diversificar a matriz energética brasileira, apostando em outras fontes – com destaque para aquelas privilegiadas por caracterísitcas naturais do país, como a eólica e a solar.
A situação é propícia a esse tipo de demanda. É também reveladora de uma dinâmica que se repete no contexto das políticas públicas e do comportamento da mídia.
Em relação à esfera pública destacam-se alertas lançados nos últimos anos na forma de estudos de viabilidade e vantagem comparativa do Brasil quanto às fontes energéticas, cálculos sobre custos dessas alternativas e posicionamento do país em relação ao movimento global da economia do baixo carbono que se torna cada vez mais intenso e estratégico para as economias mundiais.
E a imprensa? Ao que parece, faz coro com especialistas e ambientalistas em momentos pontuais de crise energética, pedindo atenção às fontes alternativas, mas no dia-a-dia parece acompanhar o governo na ideia de que o importante é gerar uma quantidade de energia para suportar crescimento econômico, sem levar em conta variantes da matriz energética, impacto ambiental, vantagens comparativas do país, o contexto da nova economia.
Como exemplo, matéria de O Globo de 7/2, que lança a seguinte provocação: “O apagão que deixou sem energia oito estados do Nordeste na última sexta-feira gerou uma controvérsia: este é o momento de se fazer a reestruturação do abastecimento na região?” Certamente; assim como o apagão na era Fernando Henrique também serviu de alerta para a questão – não só no Nordeste mas em todo país. Entre um apagão e outro, foi lançado pelo governo Lula um Plano Decenal de Energia, fundamentado em matriz hidrelétrica e térmica. As alternativas energéticas passaram longe do PDE. Assim como das páginas da grande imprensa – fora as colunas da meia dúzia de jornalistas ligados na sustentabilidade e no movimento da nova economia.
A sensação que fica é que ao mesmo tempo em que o governo se contenta em se incomodar temporariamente com a sustentabilidade da matriz energética, a imprensa também se contenta em discutir mudanças apenas em momentos de crise ou pressão ambientalista. Ambos parecem satisfeitos com um modelo energético anacrônico, composto por empreendimentos megaimpactantes e linhas de transmissão pouco eficientes e, o mais sintomático, um modelo carente de estímulo estatal para renovação que chegue até as fontes que constituem a matriz energética.
Mais sobre esse assunto:
Para Greenpeace, sistema elétrico deve ter alternativas de geração e transmissão de energia
08/02/2011 – Fonte: Agência Brasil
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07/02/2011 – Fonte: Ecopolítica
Ricardo Barretto
Comunicação GVces