Cuidar de crianças, para muita gente, é algo privado, que se faz dentro de casa. Especialmente nas grandes cidades nos dias de hoje, quem não tem condições de pagar creche acaba ficando entre quatro paredes. Em geral são as mães que abrem mão do trabalho para cuidar dos rebentos e, muitas vezes, renunciam também a outras atividades.
Para evitar que deixem de participar de movimentos de base em busca de justiça social, alguns grupos nos Estados Unidos praticam o chamado “childcare collective”, cuidando das crianças enquanto os pais participam de reuniões ou protestos. De quebra, os coletivos de creches dão um tom multigeracional aos movimentos sociais.
Um dos primeiros grupos a se formar foi o Bay Area Childcare Collective, na região de São Francisco, Califórnia. Inspirado pelo movimento Zapatista, no México, em 2002 o grupo começou a oferecer cuidado de graça para os filhos das mulheres que participavam do San Francisco Day Labor Program, organização liderada por trabalhadores.
Hoje, o coletivo oferece serviços para várias organizações que lutam para construir justiça econômica e social. Trabalhando com voluntários, o grupo está presente durante eventos que tais organizações promovem e toma conta das crianças enquanto os pais participam. “Vemos o cuidado com as crianças como um ato político” é o lema do coletivo.
Há “childcare collectives” também em Chicago, Nova York, Austin (Texas), Philadelphia e Washington. Uma das primeiras batalhas, contam alguns dos envolvidos, é enfrentar o preconceito dentro dos movimentos sociais: para muitos ativistas, ter filhos é a coisa menos revolucionária que alguém pode fazer.
Mas, apontam os responsáveis pelas creches, um movimento social sem crianças vai sempre depender de adolescentes ou adultos jovens que, embora fáceis de recrutar, dificilmente permanecem engajados por muito tempo. As crianças que acompanham os pais a eventos políticos começam, desde cedo, a navegar o mundo dos movimentos sociais e provavelmente levarão o trabalho em frente quando crescerem.
“Quando envolvemos os pais e as crianças em nossos espaços de organização e ativismo, quando incorporamos as crianças no tecido de nossas comunidade de resistência, estamos educando a nova geração de revolucionários”, escreve uma ativista e mãe.
Os pequerruchos, lembram outros ativistas, são boas fontes de ideias simples e diretas para a mudança. Um mundo onde todos são livres é fácil de alcançar na imaginação das crianças, e a lógica da ação direta faz mais sentido para elas do que para muitos adultos. E, afinal de contas, para que lutar por um mundo melhor senão para deixar para elas?