O período pós-terremoto-tsunami-acidente-nuclear no Japão é de tristeza e ansiedade, mas pelo menos o mundo parece finalmente sintonizado com o grande dilema da humanidade no século XXI: como garantir energia para continuar girando uma economia globalizada sem causar catástrofe ambiental e danos à saúde humana. O debate nas semanas que se seguem ao desastre no Japão aponta apenas uma certeza, a de que não há solução fácil. Difícil, portanto, fechar a porta definitivamente para qualquer fonte energética, mesmo a nuclear.
O setor das energias renováveis claramente ganha impulso depois dos acontecimentos no Japão, com alta nas ações de empresas e promessas de novos investimentos. Uma boa notícia foi a de que a usina Kamisu de energia eólica, localizada no mar a 300 quilômetros do epicentro do terremoto, sobreviveu intacta. O restante do parque eólico japonês também não foi afetado, embora algumas usinas tenham deixado de fornecer energia devido a danos na rede geral de eletricidade. E enquanto muitos discutem os riscos associados à energia nuclear e a possibilidade de desastres com graves conseqüências, um tribunal no Canadá ouviu de especialistas que, embora sejam barulhentas, não há provas de que as turbinas eólicas possam causar danos sérios à saúde humana.
Em geral, as usinas eólicas offshore ganham popularidade não só por escapar à oposição de residentes e da indústria do turismo, mas por garantir a captação contínua dos ventos em alto mar, minimizando o problema de intermitência na produção de energia. Na Alemanha, que fechou sete usinas nucleares depois do acidente no Japão, há relatos de que o governo estaria trabalhando em um plano para as energias renováveis, com foco nas usinas eólicas offshore. Segundo um político alemão citado pelo Der Spiegel, a energia eólica offshore “é a tecnologia que encontra a menor resistência política”. Ainda assim, trata-se de tecnologia cara e que depende de subsídios que, embora distribuídos via governo, saem do bolso do consumidor.
A indústria nuclear também recebe subsídios – assim como os setores de petróleo e carvão –, mas para alguns analistas, ainda é a única com possibilidade de oferecer energia em quantidade para manter o nível de atividade econômica sem emitir grandes quantidades de gases de efeito estufa. O Breakthrough Institute – capitaneado por Michael Shellenberg e Ted Norhaus, e conhecido pela oposição a esquemas de cap-and-trade como solução para as emissões de carbono –, publicou uma análise da situação pós-Fukushima. Segundo o instituto, o acidente no Japão deve mudar pouco o estado de coisas porque o grande crescimento na construção de usinas nucleares se dá em países em desenvolvimento, onde há necessidade de usar todas as fontes disponíveis de energia para manter a economia crescendo.
Stewart Brand, ativista e presidente da Long Now Foundation, concorda e mantém sua defesa da energia nuclear mesmo depois do desastre em Fukushima. Segundo ele, a energia nuclear equivale a um salto em eficiência, semelhante a deixar de queimar madeira para queimar carvão e petróleo. Continuamos buscando saltos da mesma magnitude em relação às renováveis, mas os avanços nessa área são graduais, diz. Brand acredita que o aspecto positivo do acidente em Fukushima será o aumento na segurança das usinas nucleares.
Para o jornalista britânico Geroge Monbiot, o desastre no Japão trouxe mudança de opinião. Em artigo no jornal The Guardian, Monbiot anunciou ter deixado de ser neutro em relação à energia nuclear para se tornar seu defensor. Ele afirma que, se a indústria nuclear fosse fechada, a fonte de energia para qual a maioria das economias reverteria não seria madeira, água, vento ou sol, mas combustíveis fósseis. “Em todas as medidas – mudança climática, impacto da mineração, poluição local, danos e morte e mesmo descargas radioativas – o carvão é 100 vezes pior do que a energia nuclear. Graças à expansão da produção do gás em formações sedimentares, os impactos do gás natural estão aumentando rapidamente”, escreveu.
Dois pesquisadores americanos – de Stanford e da Universidade da Califórnia – testaram a possibilidade de que o mundo dependa apenas das energias renováveis a partir de 2030. Apesar das dificuldades que ainda circundam essas fontes, concluíram, a conversão é possível mesmo com as tecnologias disponíveis hoje, e não haveria falta de materiais ou de espaço para colher energia principalmente do sol, do vento e da água. Mais do que condições físicas, destacaram os pesquisadores, o que a empreitada demanda é vontade.