Sorte a de Bilac, quando podia se inspirar na “verdura sem par dessas matas” para elaborar seus intrincados poemas e, em especial, o hino à bandeira brasileira. Das matas, muito se esvaiu e parece que com o seu verde não está sendo muito diferente. Um estudo, conduzido por uma equipe internacional de cientistas e financiado pela NASA, revelou que a Amazônia tem perdido coloração e exuberância, com grandes áreas marcadas por vegetação menos viçosa e mais marrom.
Segundo a pesquisa, cerca de 618 milhões de hectares, uma área correspondente a três vezes e meia o tamanho do estado americano do Texas, tem perdido seus níveis de verde. Desde a última seca, que teve fim em outubro passado, a vegetação ainda não alcançou a coloração prevista. Os cientistas afirmam que, depois de cerca de cinco meses, isso já deveria ter ocorrido, sendo preocupante ainda mais pelo fato de que a cor das florestas representa um importante indicativo da saúde desses ecossistemas.
No ano passado, a Amazônia enfrentou um dos mais duros e longos períodos de estiagem de toda a sua história. Em outubro, os principais rios da região chegaram aos seus menores níveis nas últimas décadas. Para se ter uma ideia, o Rio Negro passou pelo período mais seco dos últimos 109 anos, desde quando começaram as medições.
Em entrevista ao jornal americano International Business Times, os cientistas disseram que as mudanças no clima, com temperaturas mais quentes e menos precipitações, podem levar as florestas a se transformarem em savanas ou cerrados arborizados. Além disso, a vegetação mais prejudicada, muitas vezes já podre, poderia acabar liberando para a atmosfera todo o carbono que armazena, intensificando o efeito estufa.
“Os dados sobre a coloração da vegetação sugerem um impacto mais generalizado, grave e duradouro sobre a vegetação amazônica do que o que pode ser inferido baseado exclusivamente em dados sobre as chuvas”, afirmou Arindam Samanta, co-autor do estudo e membro do Centro de Pesquisas Ambientais e Atmosféricas de Lexington (AER), em Massachusetts (Estados Unidos).
Trata-se de um efeito em cadeia: a perda do verde significa menos disponibilidade de clorofila para a realização de fotossíntese, processo que ajuda a absorver o gás carbônico da atmosfera, eliminando oxigênio. Dessa forma, umas das implicações mais graves da perda do verde dessas vegetações pode ser justamente o aumento da temperatura global, associado ao próprio prejuízo na qualidade do ar.
O estudo será publicado pela revista Geophysical Research Letters, periódico da União Geofísica Americana.