Impossível falar hoje em ciberativismo sem citar a Avaaz, atualmente a maior organização internacional de mobilização via Internet. A brasileira Graziela Tanaka, que coordena campanhas pelo mundo inteiro, diz que todo esse movimento mostra que há uma demanda de articulação global em torno de questões comuns, como direitos humanos e mudanças climáticas. De olho no Brasil, que alterna com a França a liderança mundial em número de ciberativistas, a Avaaz foi uma das principais articuladoras da mobilização popular em favor da aprovação do Projeto Ficha Limpa, em maio do ano passado.
1) Em 4 anos de existência, a Avaaz já reúne mais de 7 milhões de membros. A que se deve esse resultado? Quando a Avaaz foi lançada, havia dúvidas se os temas que interessam a determinado país são compartilhados globalmente. Foi uma experiência totalmente nova e que ressoou no mundo inteiro. Para mim, o motivo disso é que havia a demanda por uma comunidade global que tratasse de questões altamente políticas, relacionadas a direitos humanos, mudanças climáticas. Não existia e ainda não existe, nesse sentido, nenhuma organização com as características da Avaaz.
2) Na visão da Avaaz, por que o Brasil está entre os países com os maiores números de membros? O Brasil já estava no planejamento da Avaaz, antes mesmo de seu lançamento, por ser uma das democracias mais fortes do Cone Sul, além de seu papel geopolítico importante no mundo. Outro aspecto é a conectividade e a globalidade dos brasileiros, fortemente conectados via Twitter, Facebook, e-mail, Orkut, antenados com o que acontece no mundo, interessados em questões relacionadas a direitos humanos, meio ambiente. Mas a época em que o Brasil realmente cresceu na lista da Avaaz foi na época da campanha Ficha Limpa.
3) Você acredita que os mesmos interessados em assinar a petição do Ficha Limpa estariam dispostos a participar de outras formas de atuação política? Uma forma de mobilização não exclui a outra. Só que nem todo mundo é um ativista em período integral. As pessoas têm família, trabalho. Não se pode julgar as pessoas, no ciberativismo, pelo nível de politização. Eu diria que muitos que participam do ativismo on-line não têm outras opções. Há também aquelas pessoas que estão sendo introduzidas junto às questões políticas. Nesse sentido, a Avaaz funciona mais como uma escada. As pessoas precisam saber qual é o nosso posicionamento em relação à política e, a partir daí, pesquisar e se aprofundar e, se tiverem a oportunidade, se engajar em outra forma de mobilização. Apoiamos as manifestações de rua, mas a mobilização on-line tem um dinamismo, uma rapidez, que a mobilização de rua não permite.
4) Como tornar o ato de mobilização algo além do simples click? O trabalho de mobilização vai muito além do click da página. “Avaaz” significa “voz” em várias línguas e nossa missão deixa claro que levamos a voz da sociedade civil para momentos de decisão política. O click é uma forma de representação das pessoas ao redor do mundo, mas só que, por detrás disso, há todo um trabalho de ver essas vozes representadas, dentro de um processo de decisão, chegando aos ouvidos dos tomadores de decisão. Temos o compromisso de fazer uma ponte política e contamos com um reconhecimento e um compasso com governos e políticos e uma forma própria de levar a nossa mensagem para eles de fato. Essa é a garantia do impacto político.
5) Como são escolhidas as causas às quais apoiar? O trabalho do pessoal de campanha é justamente esse: procurar assuntos e, para isso, estar sempre em contato com organizações da sociedade civil e fatos importantes que estejam acontecendo no mundo. Recebemos também muitas sugestões de membros. Todas as campanhas da Avaaz são testadas antes com a lista de membros. A equipe da Avaaz não manda nenhuma campanha que não tenha já o apoio dos integrantes de sua lista.
6) Como é garantida a autenticidade das petições da Avaaz? Essa é uma grande preocupação da Avaaz: ter uma equipe técnica de ponta, que trabalha com as tecnologias mais sofisticadas. Se vemos, por exemplo, que há muitas assinaturas do mesmo IP, bloqueamos, fazemos uma investigação, verificamos todos os nomes das assinaturas e se, por exemplo, forem os mesmos nomes, os mesmos endereços de e-mail, cancelamos essas petições.
7) Qual é o futuro do ciberativismo? O que a Avaaz espera realizar tendo em vista esse futuro? Nos primeiros anos, focamos muito no crescimento, pois, para ter impacto com a mídia e os governos, precisamos de números grandes, uma escala de milhões. Acho que agora é buscar um impacto mais forte, um reconhecimento maior e procurar ter um engajamento em níveis mais profundos da comunidade. Tivemos já alguns experimentos em mobilização de rua com pessoas do mundo inteiro. Fizemos uma vigília pelo clima durante a conferência de Copenhague, a COP-15. A ideia agora é realizar outras ações que tenham uma participação mais ativa da nossa lista. Tenho uma expectativa muito grande em relação ao ciberativismo no Brasil porque acho que ainda está engatinhando. As organizações nacionais devem seguir o exemplo da Avaaz e tentar incorporar mais ciberativismo nas suas ações, pois já foi comprovado que isso funciona, realmente tem um impacto político, tem sucesso. Estou muito ansiosa para saber como isso vai se desenvolver em campanhas nacionais, com ONGs e movimentos nacionais.