No território fluido, eletrônico, metaespacial da metrópole, só atua, na realidade, aquele que dali se apropria. E é por meio da arte que o espaço pode se integrar mais ao humano, aproximando-nos do mundo cinza e rígido do concreto das cidades. Arte é relação pura, é definição inquieta, interpretação a construir. E é com isso que trabalha a estética relacional.
Linha desenvolvida nos anos 90 por Nicolas Bourriaud, teórico francês, crítico de arte e professor na Escola de Arte de Paris, a arte relacional ganha evidência na busca contemporânea por uma reavaliação da nossa relação com o ambiente, principalmente naquele que tem se tornado cada vez mais preponderante: o meio urbano.
Os significados das obras de arte deixam a esfera da elite, do gueto especializado, para assumir as interpretações que cada um formula ao vê-las, senti-las ou ouvi-las. Não se tratam mais de tela e tinta a óleo, bronze ou mármore branco: a matéria-prima agora é a palavra, o som, a cor, que, vez ou outra, incorporam-se sob a forma de um lambe-lambe, uma parede iluminada, uma performance corporal. O artista passa a ser um cidadão que interfere na realidade à sua volta e, ao mesmo tempo, um trabalhador do cotidiano.
Em sua próxima edição, Página22 vai mostrar alguns exemplos do que está acontecendo no Brasil, como esses artistas estão agindo nas grandes cidades e as formas pelas quais essa arte relacional pode contribuir para a resolução de questões problemáticas nos centros urbanos.
Aproveitando, destacamos um documentário-aperitivo (ao lado) sobre as intervenções do Poro, dupla de artistas que reivindica uma ocupação poética das cidades a partir de obras de arte efêmeras, que podem durar, muitas vezes, apenas alguns segundos. “O fato justamente de o trabalho não permanecer é que traz potência a ele”, diz Brígida Campbell, que compartilha suas aventuras de rua com Marcelo Terça-Nada!.