O papel da Suzano com pegada de carbono certificada pela Carbon Trust, de Londres, poderá influenciar uma mudança substancial na maneira como empresas brasileiras e latino-americanas calculam suas emissões de gases de efeito estufa. Enquanto nos inventários tradicionais o cálculo geralmente abarca operações diretas das empresas, na pegada de carbono, entram até as emissões dos fornecedores de matéria-prima.
Dessa forma, a Suzano descobriu que as emissões relacionadas à produção e à distribuição de alguns de seus papéis chegam quase a triplicar em relação aos inventários, quando se aplica a metodologia PAS2050, exigida pela empresa britânica para certificar seus clientes. A PAS2050 tem a vantagem de cobrir com mais eficácia e amplitude as emissões de carbono desde o fornecedor de insumos até as diferentes rotas logísticas para distribuir produtos nos mercados doméstico e externo.
Nesta quinta-feira, 12 de maio, a Suzano lançou em São Paulo (SP) as versões de quatro de seus modelos de papel com a certificação “Carbon Reduction Label” (em tradução livre, “Selo de Redução de Carbono”). Pioneira na América Latina na obtenção da certificação de pegada de carbono na América Latina, a Suzano foi a primeira empresa do mundo a conseguir o selo no setor de celulose em outubro passado. Desta vez, a empresa sai mais uma vez na frente de suas concorrentes mundiais conseguindo a certificação da Carbon Trust para papel.
“Há uma tendência de grandes varejistas, como Tesco e Walmart, cobrarem de seus fornecedores dados sobre sua pegada de carbono”, observa o indiano Sujeesh Krishnan, presidente da Carbon Trust para as Américas. Presente no lançamento dos papéis certificados da Suzano, Krishnan disse à Página22 que sua empresa ocupa espaço cada vez mais valorizado no mundo da sustentabilidade: oferece segurança à companhia que compra produtos e serviços quanto às informações de seus fornecedores e confiança à empresa fornecedora que busca a certificação de carbono. “Não precisamos expor detalhes a seu cliente tais como custos de produção, que poderiam fragilizá-lo na negociação de preços”, explica o executivo da Carbon Trust.
Por seu lado, a Suzano não espera ser premiada com acréscimos nos preços de seus papéis e celulose decorrentes da certificação obtida. “O que alcançamos hoje com essas certificações [relacionadas à sustentabilidade] é muito mais um diferencial competitivo do que no preço”, assinala Alexandre Di Ciero, gerente executivo de sustentabilidade da Suzano. Em outras palavras, certificações calcadas na pegada de carbono deverão se tornar cada vez mais essenciais para manter ou abocanhar novos mercados, sobretudo na Europa, que é mais demandante desse instrumento, como sublinha o executivo da companhia brasileira. Como próximo passo na gestão de suas emissões de carbono, a empresa brasileira estuda uma meta de redução para apresentar à Carbon Trust.
Ainda este ano, mais uma companhia brasileira receberá a certificação “Carbon Reduction Label”. Krishnan somente diz que o cliente pertence ao setor automotivo e acrescenta que há negociações com mais cinco empresas brasileiras interessadas na certificação. Desde 2001, quando iniciou suas operações, a Carbon Trust fomentou a diminuição de 29,5 milhões de toneladas de CO2 e economia de aproximadamente 2,6 bilhões de libras em gastos com energia (cerca de R$ 6,8 bilhões) em quase 400 empresas. O selo, por sua vez, foi lançado em 2007, e já está presente em mais de 90 marcas e 5.000 produtos, incluindo alimentos e bebidas, artigos domésticos, equipamentos elétricos, materiais de construção e roupas.