A aprovação do projeto que altera o Código Florestal pela Câmara na noite de terça-feira foi notícia não só no Brasil. Boa parte dos grandes jornais internacionais reportou a votação e a maioria destacou os efeitos para as florestas brasileiras. Alguns arriscaram opinar, como o espanhol El País, ao dizer que “mais uma vez ficou claro quem manda no Brasil quando os interesses dos latifundiários estão em jogo”.
O Wall Street Journal chamou o novo código de controverso, disse que o projeto deve ser aprovado “quase intacto” pelo Senado e levantou questão sobre a capacidade do governo de colocar a lei em prática. “O debate sobre a lei evita o problema maior de se o Brasil é capaz de encarar a tarefa de fazer valer suas leis ambientais, dizem observadores. Tanto ambientalistas quanto agricultores concordam que a lei atual não é cumprida. A razão é que as autoridades não possuem recursos para operar em áreas vastas e remotas do Brasil que ainda retêm uma ilegalidade de faroeste”.
O correspondente para assuntos ambientais da BBC, Richard Black, chamou o novo código de “retrógrado” e disse que a dicotomia sobre o caminho para o desenvolvimento – refletida no embate entre ruralistas e ambientalistas – é um “dilema global”. “Claro, os fazendeiros podem explorar mais de suas terras se puderem desmatar o topo dos morros e as margens dos rios. Mas o que acontece se vêm fortes chuvas? Quanto aumentam as chances de que a água lave as encostas recém-desmatadas e leve o solo embora?”, questionou.
Black também lembrou o Brasil almeja ser líder internacional na área de proteção à natureza e, como tal, estará sujeito a críticas. “Na cúpula sobre biodiversidade da ONU no ano passado, não houve país mais visível, mais vocal e mais engajado em todos os temas em discussão do que o Brasil. Críticas às nações ocidentais consolidam-se em torno da noção de que, se você quer reivindicar liderança ambiental, faça-o com ações em vez de palavras. As mesmas críticas serão, eventualmente, direcionadas aos países em desenvolvimento que não protegem o que têm – especialmente diante do conselho de que a proteção faz parte de seus interesses de longo prazo”.
O Financial Times disse que o novo código é uma ameaça à Amazônia, mas alertou que será difícil usar argumentos econômicos para atingir objetivos ambientais. Segundo o jornal, dificilmente a nova legislação vai afetar as exportações brasileiras devido a oposição, em mercados como a Europa, às práticas ambientais. “O problema é que o Brasil vende menos e menos para esses mercados. Mais da metade das exportações de soja do país, por exemplo, agora vão para a China – um país onde os protestos ambientais frequentemente estão limitados a temas locais em vez de injustiças globais”.
O China Daily, jornal publicado pelo governo chinês em inglês, limitou-se ontem a noticiar que a presidente Dilma Rouseff pretende vetar dispositivos que dêem anistia a agricultores que desmataram no passado.