O debate sobre espécies invasoras ganhou mais um round com a publicação, no início de junho, de um comentário na revista Nature assinado por quase duas dúzias de biólogos.
Os pesquisadores defendem que as espécies não sejam julgadas por sua origem, mas por sua função nos ecossistemas. Segundo eles, cientistas, gestores da terra e autoridades devem abandonar “a preocupação com a dicotomia entre espécies nativas e invasoras e abraçar uma abordagem mais dinâmica e pragmática para a conservação e a gestão das espécies”. Tal abordagem, dizem, é mais condizente com a realidade à nossa volta – a de um planeta submetido a eutrofização por nitrogênio, mudanças do clima, aumento da urbanização, entre outras mudanças.
A “biologia da invasão” tornou-se uma disciplina nos anos 90, quando se criou a ideia de que espécies invasoras causam a extinção de nativas e poluem o ambiente “natural”, lembram os autores.
A qualidade de ser nativa, entretanto, não é um sinal de aptidão evolutiva ou de efeito positivo sobre um determinado ecossistema, escreveram. “Classificar a biota de acordo com sua aderência a padrões culturais de pertencimento, cidadania, honestidade e moralidade não faz a nossa compreensão da ecologia avançar.” Eles citam exemplos de espécies “estrangeiras” que tiveram efeitos positivos nos seus novos ecossistemas e lembram que hoje convivemos com ecossistemas que nunca existiram antes. “É Impraticável tentar restaurar os ecossistemas de volta a algum estado histórico ‘correto’”, afirmam.
Os autores garantem que não defendem o abandono de esforços dos governos para mitigar danos causados por espécies introduzidas ou para evitar a entrada de espécies com efeitos potencialmente danosos, mas, sim, uma “organização de prioridades” em torno da função das espécies e não de sua origem. O debate continua quente e comentários na internet sobre o artigo na Nature comparam seus autores aos defensores do Criacionismo.