Em 11 de março, quando 5 reatores atômicos foram danificados por um terremoto seguido de tsunami, a cidade japonesa de Fukushima virou manchete. Nos dias que se seguiram, a escalada da contagem de mortos (15.547 confirmados), as explosões e incêndios, a injeção de água do mar para esfriar a usina nuclear, o derretimento de três reatores e o vazamento de radioatividade mantiveram o Japão no noticiário.
Depois disso, o silêncio. Nem o novo terremoto, de 7 graus na escala Richter, ocorrido no domingo, na mesma região, parece ter animado a imprensa. Mas a quantas andará Fukushima?
A Harvard magazine trouxe dias atrás um relato bastante impressionante sobre os estragos do tremor de março. O autor, Akira Tsuda, do Departamento de Saúde Ambiental da Escola de Saúde Pública da universidade norte-americana, visitou uma das cidades mais afetadas, Kesennuma, no começo do mês passado.
Tsuda diz:
A área portuária, atingida com mais força pelo terremoto, ainda estava sob escombros. Eu estava cercado por todos os lados por enormes montanhas de entulho, composto por todo tipo de coisa, desde pequenos objetos de uso pessoal até grandes navios encalhados.
Caminhões de coleta de entulho estavam por toda parte nas estradas de terra improvisadas de Kesennuma. Como os semáforos ainda não estavam funcionando na maior parte da cidade, os trabalhadores da Defesa Civil do Japão e voluntários com máscaras usavam bandeiras para controlar o tráfego. A porção ocidental do porto, onde petroleiros ficavam estacionados ao longo do cais, estava completamente queimada, devido aos efeitos dos grandes derramamentos de petróleo de tanques virados pelo tsunami. Uma placa solitária da Escola Primária Urashima se destacava no entulho, mas já não se via o edifício.
O porto de Kesennuma era o centro da indústria japonesa da pesca. Ele era repleto de armazéns refrigerados capazes de estocar grandes volumes de pescado trazido pelos pescadores locais. O tsunami destruiu totalmente essas unidades e a cidade estava cheia de um cheiro forte de peixe podre.
Na central nuclear de Fukushima, o caos e o esforço de remediação dos estragos também estão longe de terminar. O último boletim emitido pela Associação Internacional de Energia Atômica, em 2 de junho, que o problema continuava sério.
Desde então, em 6 de junho, a Tohoku Electricity Co., ou Tepco, empresa que opera a usina, admitiu que os reatores 1, 2 e 3 estão completamente fundidos. Além disso, o telhado do reator 1 desabou, o que levou a empresa a investir numa estrutura temporária que impeça que a chuva continue a entrar na unidade, arrastando com ela material radioativo. Ela começou a ser instalada no último dia 28 e deverá durar dois ou três anos.
Interessado em acompanhar o desenrolar do gerenciamento da crise das usinas de Fukushima? Esta boa linha do tempo e esta página criada pela Associação Internacional de Energia Atômica podem ajudar. Mas note que a AIEA não fez atualizações desde 2 de junho. Realmente, o Japão parece que perdeu seu charme.