A trajetória ainda está só começando, mas não há motivos para duvidar de que o Complexo Hidrelétrico do Rio Tapajós siga a esteira das polêmicas já verificadas para Belo Monte e Rio Madeira. No entanto, há uma proposta inédita na mesa da Eletrobras: construir as futuras usinas São Luiz do Tapajós, Jatobá, Chacorão e Jardim do Ouro (rio Jamanxim) como hidrelétricas-plataforma.
A ideia é inspirada nas plataformas para exploração de petróleo em alto mar. Nesses casos, boa parte da infra-estrutura da operação, como alojamentos e depósitos, deixa de ser construída no local. Trabalhadores e equipamentos são transportados de helicóptero.
Foi também o que propôs a Petrobras, em 2006, para aplacar a resistência ambientalista à extração de petróleo no Parque Nacional do Yasuní, no Equador. Sem a necessidade de construir estradas, o desmatamento estimado à época seria de apenas 29 hectares. Mas a petroleira, que teve a licença cassada pelo então presidente Alfredo Palacio, decidiu deixar a região de vez em 2008 e a inovação nunca foi testada.
Com todo o ineditismo, é difícil dizer que tipo de impactos a usina-plataforma seria capaz de evitar. Em 2009, Lula, empolgadíssimo, falava em “revolução” capaz de agradar “até aos ecologistas mais radicais”. Fato é que os efeitos colaterais negativos dos aproveitamentos hidrelétricos na Amazônia são muito mais amplos que o desmatamento provocado diretamente pelas obras.
À primeira vista, o plano parece querer evitar o drama sócio-econômico que se desenrola em Altamira e Porto Velho. Sem acesso por terra, o deslocamento do enorme contingente de trabalhadores e sua fauna acompanhante (pequenos comerciantes, prostitutas, traficantes, especuladores da terra) seria desestimulado.
Mas palavra a que se deve prestar muito atenção é “vazamento” (em inglês, leakage é o termo usado para situações em que o impacto socioambiental é controlado em um lugar, mas se manifesta em outro).
Ainda que a construção seja conduzida com mínimo distúrbio para a floresta, nada impede que cidades vizinhas às obras sejam transformadas em bases operacionais, portanto vítimas do aquecimento econômico descontrolado que, em lugar de desenvolvimento, traz o caos.
Ainda é muito cedo para dizer se o projeto de usina-plataforma sairá do papel. Se sair, é só esperar para ver quem será o primeiro a arriscar chamar o Complexo Tapajós de “impacto zero”. Embromação à vista.