Empresas vão além da gestão convencional da água nas fábricas e passam a mapear seu uso de fornecedores a consumidores
Um pequeno grupo de empresas, com Natura, Fibria e Ambev à frente, tenta cruzar a fronteira da gestão convencional da água no Brasil, centrada na redução do consumo nos limites das fábricas. E o fazem medindo a pegada hídrica da cadeia de valor de sua produção – que engloba a demanda de água dos fornecedores de insumos, das operações diretas e no uso do produto pelo consumidor. O conceito da pegada hídrica foi desenvolvido na década passada por Arjen Hoekstra, da Universidade de Twente, na Holanda, e pelo nepalês Ashok Chapagain, assessor-sênior de água do WWF do Reino Unido. Hoekstra também foi o mentor da Rede de Pegada Hídrica (WFN, na sigla em inglês), cuja metodologia, aplicada pelas empresas brasileiras, classifica a pegada em água verde (consumida na produção de insumos vegetais), água azul (captada diretamente dos rios) e água cinza (necessária para diluir matéria orgânica dos efluentes).
A Natura estuda a pegada hídrica de seus produtos desde 2008. Em um projeto-piloto conduzido em 2009 e 2010, a empresa averiguou que 62% da água consumida na cadeia de valor do desodorante Kaiak Aventura Masculina referem-se à “água verde”, em função do álcool, oriundo da cana-de-açúcar. Constatação inversa ocorreu no óleo corporal trifásico Maracujá, que usa só 2% de “água verde”, mas 98% de água cinza, por se associar ao consumo de água no banho. “Estamos desenvolvendo indicadores baseados na pegada hídrica para aprimorar nossa gestão ambiental”, explica Ines Francke, pesquisadora da Natura. Em decorrência do projeto, a empresa verificou que o álcool orgânico diminui a pegada em 50%. O curioso é que a migração de toda a linha de perfumes e desodorantes para o álcool orgânico, ocorrida entre 2007 e dezembro de 2009, foi obra de outro indicador, o de emissões de carbono. Apesar de mais caro, o álcool orgânico permitiu à empresa cortar em 50% as emissões da produção dos itens de perfumaria.
A Fibria e a Ambev procuraram na Universidade de São Paulo assessoria técnica para o cálculo da pegada hídrica. Na Fibria, maior produtora mundial de celulose de fibra curta, são os pesquisadores do grupo de governança da água do Programa de Pós-Graduação em Ciência Ambiental (Procam) da USP, que desde março desenvolvem o estudo.
Seu relatório preliminar deverá ficar pronto até outubro, informa Danilo Henrique Vergilo, coordenador de meio ambiente industrial da unidade da Fibria em Jacareí (SP), uma das três da empresa. “Queremos olhar para a cadeia de valor da celulose com ferramentas de gestão mais robustas, como a pegada”, assinala Vergilo.
Procurada por meio de sua assessoria de imprensa, a Ambev não atendeu ao pedido de entrevista. Do que é divulgado em seu site, é possível saber apenas que o estudo sobre pegada hídrica começou em janeiro de 2010, em parceria com a WFN e pesquisadores da Escola de Engenharia do campus da USP em São Carlos (SP). Com a pegada, a Ambev informa que poderá recomendar ações a seus fornecedores para diminuir o consumo de água utilizada nas diferentes fases da produção da cerveja.
Aparentemente, a água é tema de comunicação mais fácil com o público do que o carbono. No entanto, as empresas suam para adaptar a metodologia da WFN a regiões onde operam. “A metodologia precisa evoluir e ficar mais prática”, observa Sergio Camargo, gerente de tecnologias sustentáveis da Natura. Segundo o executivo, ela requer ferramentas sofisticadas para sua implementação e gestão dos resultados, tais como bases de dados regionalizados, e precisa incorporar questões como a falta de saneamento básico. “Quando usados no banho, alguns produtos podem impactar a água, se esta não for tratada posteriormente”, adverte Camargo, indicando que determinadas soluções dependem de modificações na esfera dos fornecedores: “Nossos produtos terão menor impacto se técnicas mais sustentáveis forem utilizadas na agricultura”.[:en]Empresas vão além da gestão convencional da água nas fábricas e passam a mapear seu uso de fornecedores a consumidores
Um pequeno grupo de empresas, com Natura, Fibria e Ambev à frente, tenta cruzar a fronteira da gestão convencional da água no Brasil, centrada na redução do consumo nos limites das fábricas. E o fazem medindo a pegada hídrica da cadeia de valor de sua produção – que engloba a demanda de água dos fornecedores de insumos, das operações diretas e no uso do produto pelo consumidor. O conceito da pegada hídrica foi desenvolvido na década passada por Arjen Hoekstra, da Universidade de Twente, na Holanda, e pelo nepalês Ashok Chapagain, assessor-sênior de água do WWF do Reino Unido. Hoekstra também foi o mentor da Rede de Pegada Hídrica (WFN, na sigla em inglês), cuja metodologia, aplicada pelas empresas brasileiras, classifica a pegada em água verde (consumida na produção de insumos vegetais), água azul (captada diretamente dos rios) e água cinza (necessária para diluir matéria orgânica dos efluentes).
A Natura estuda a pegada hídrica de seus produtos desde 2008. Em um projeto-piloto conduzido em 2009 e 2010, a empresa averiguou que 62% da água consumida na cadeia de valor do desodorante Kaiak Aventura Masculina referem-se à “água verde”, em função do álcool, oriundo da cana-de-açúcar. Constatação inversa ocorreu no óleo corporal trifásico Maracujá, que usa só 2% de “água verde”, mas 98% de água cinza, por se associar ao consumo de água no banho. “Estamos desenvolvendo indicadores baseados na pegada hídrica para aprimorar nossa gestão ambiental”, explica Ines Francke, pesquisadora da Natura. Em decorrência do projeto, a empresa verificou que o álcool orgânico diminui a pegada em 50%. O curioso é que a migração de toda a linha de perfumes e desodorantes para o álcool orgânico, ocorrida entre 2007 e dezembro de 2009, foi obra de outro indicador, o de emissões de carbono. Apesar de mais caro, o álcool orgânico permitiu à empresa cortar em 50% as emissões da produção dos itens de perfumaria.
A Fibria e a Ambev procuraram na Universidade de São Paulo assessoria técnica para o cálculo da pegada hídrica. Na Fibria, maior produtora mundial de celulose de fibra curta, são os pesquisadores do grupo de governança da água do Programa de Pós-Graduação em Ciência Ambiental (Procam) da USP, que desde março desenvolvem o estudo.
Seu relatório preliminar deverá ficar pronto até outubro, informa Danilo Henrique Vergilo, coordenador de meio ambiente industrial da unidade da Fibria em Jacareí (SP), uma das três da empresa. “Queremos olhar para a cadeia de valor da celulose com ferramentas de gestão mais robustas, como a pegada”, assinala Vergilo.
Procurada por meio de sua assessoria de imprensa, a Ambev não atendeu ao pedido de entrevista. Do que é divulgado em seu site, é possível saber apenas que o estudo sobre pegada hídrica começou em janeiro de 2010, em parceria com a WFN e pesquisadores da Escola de Engenharia do campus da USP em São Carlos (SP). Com a pegada, a Ambev informa que poderá recomendar ações a seus fornecedores para diminuir o consumo de água utilizada nas diferentes fases da produção da cerveja.
Aparentemente, a água é tema de comunicação mais fácil com o público do que o carbono. No entanto, as empresas suam para adaptar a metodologia da WFN a regiões onde operam. “A metodologia precisa evoluir e ficar mais prática”, observa Sergio Camargo, gerente de tecnologias sustentáveis da Natura. Segundo o executivo, ela requer ferramentas sofisticadas para sua implementação e gestão dos resultados, tais como bases de dados regionalizados, e precisa incorporar questões como a falta de saneamento básico. “Quando usados no banho, alguns produtos podem impactar a água, se esta não for tratada posteriormente”, adverte Camargo, indicando que determinadas soluções dependem de modificações na esfera dos fornecedores: “Nossos produtos terão menor impacto se técnicas mais sustentáveis forem utilizadas na agricultura”.