Enquanto a Alemanha optou por fechar suas usinas nucleares depois do desastre de Fukushima e apostar nas renováveis, um número crescente de países investe no gás natural como combustível para o médio e longo prazos. A Agência Internacional de Energia (AIE), em relatório recente, estima que todas as maiores regiões geográficas do mundo dispõem de reservas equivalentes a pelo menos 75 anos de consumo aos níveis atuais, e especula se o mundo está entrando em uma “era de ouro” do gás. Pode ser uma era dourada do ponto de vista energético, mas ambientalmente o gás deixa bastante a desejar.
Cresce a produção não-convencional de gás, especialmente por meio do chamado “fracking”, uma técnica de perfuração horizontal via fraturamento hidráulico das rochas do subsolo para atingir depósitos de gás em formação sedimentares. Desde a desregulamentação do setor de gás nos Estados Unidos em 1978, a técnica vem sendo aprimorada e hoje o gás natural obtido de formações sedimentares fornece 23% do gás usado pelos americanos, diz a revista The Economist.
A revista acredita que o gás natural trará uma revolução. “Na medida em que o sucesso do gás de formações sedimentares se repete em outros lugares, uma fonte vital de energia vai se tornar disponível com um conjunto cada vez mais diverso e numeroso de fornecedores em mercados cada vez mais livres”, diz em reportagem. “Isso significa que, diferentemente do boom do petróleo nas décadas após a Segunda Guerra Mundial, esse crescimento do gás pode não entregar uma arma política poderosa aos países com as maiores reservas”.
Apesar da promessa de um mercado diversificado e livre, persistem as preocupações ambientais. O documentário Gasland explorou a fundo os impactos do fracking para as águas subterrâneas, os rios e a saúde humana em várias regiões dos EUA. Em julho, a França se tornou o primeiro país a considerar a técnica ilegal. A Inglaterra suspendeu operações depois que a extração de gás via fracking foi associada a pequenos terremotos. O estado australiano de New South Wales estendeu uma moratória nas operações de fracking até o final do ano. No estado de Western Australia, um projeto para produção de gás convencional ameaça a região de Kimberley, uma das últimas áreas selvagens do país e uma das mais significativas culturalmente para as populações aborígenes.
Além dos impactos locais da produção de gás natural, há os efeitos para as emissões globais de carbono. A AIE lembra que, embora mais “limpo” que o petróleo e o carvão, o gás natural é um combustível fóssil. A agência aponta que o gás pode substituir combustíveis de baixo carbono, como as fontes renováveis e a energia nuclear, e alerta que, sozinha, a expansão de seu uso não será panacéia para as mudanças do clima. No cenário de uma era de ouro do gás, com alto consumo e 40% da demanda suprida por gás não convencional, a AIE estima aumento das temperaturas globais em mais de 3,5 graus Celsius.
O gás natural é particularmente atrativo para países e regiões que estão se urbanizando e precisam satisfazer o rápido crescimento da demanda por energia, notadamente a China, a Índia e o Oriente Médio. Eles provavelmente vão determinar o quão dourada virá ser a era do gás – e seu impacto sobre o meio ambiente.