Há coisa de 15 anos, era possível contar nos dedos os selos verdes disponíveis no mercado. Praticamente só existiam um par de selos orgânicos e o selo de manejo florestal do FSC, o Forest Stewardship Council. Hoje a coisa é outra. Segundo o Ecolabel Index, um diretório que registra as iniciativas do gênero, existem 423 selos verdes na praça. Alguns são regionais ou nacionais, como os selos orgânicos da Áustria ou do estado norte-americano do Texas, ou ainda o Tourism Ecolabel, atribuído pelo Ministério do Meio Ambiente de Luxemburgo a hotéis, pousadas e áreas de camping. Embora eles sejam mais comuns no Hemisfério Norte, estão cada vez mais presentes em países em desenvolvimento, sobretudo na Ásia. Outros selos estão ligados a segmentos econômicos específicos – é o caso do CRI Green Label, que identifica carpetes com baixo risco de emissão de compostos orgânicos voláteis, ou o VeriFlora, voltado para o mercado de floriculturas. A diversidade dos selos verdes é tamanha que o conglomerado químico Basf acaba de lançar uma ferramenta virtual que ajuda a comparar as suas características e separar o joio do trigo.
A multiplicação dos selos verdes vem reafirmar o crescimento do consumo consciente e do debate socioambiental. Mas, como tudo o que é excessivo, corre risco de esvaziamento.
“Está cada vez mais difícil usar esse instrumento para diferenciar um produto, sobretudo porque os consumidores são sobrecarregados de informação e acabam desconfiados”, aponta o estudo “Signed, Sealed… Delivered?”, publicado em março pela consultoria SustainAbility. Em alguns casos, a desconfiança se justifica. O documento lembra dois episódios recentes em que selos tradicionais tiveram a sua credibilidade questionada. No primeiro, o Marine Stewardship Council, principal certificador da indústria da pesca, foi acusado de legitimar empresas que ameaçavam estoques de espécies em declínio. A entidade rejeitou a acusação e declarou que suas decisões têm sido baseadas em informação científica sólida. Num outro episódio, uma indústria de papel teria conseguido o EU Ecolabel, selo verde da União Europeia, para um produto parcialmente produzido com madeira de florestas virgens da Indonésia, retiradas de áreas com populações de tigres, elefantes e orangutangos.
Naturalmente, esses episódios não tiram o mérito do conjunto de selos. O útimo relatório anual da Agência de Proteção Ambiental dos EUA, a EPA, estimou que o selo Energy Star, que destaca eletro-eletrônicos de baixo consumo de energia, ajudou a evitar emissões de gases-estufa equivalentes às de 31 milhões de veículos em 2009. Ele também contribuiu para uma redução nos gastos com eletricidade na faixa de US$ 17 bilhões. Esses números têm que ser vistos com alguma precaução – afinal, a geladeira não consome pouca energia por ter o selo. Entretanto, é inegável que o Energy Star ajuda a propagar um modelo de consumo de menor impacto.
Muitos selos sequer avaliam seus resultados, como o Energy Star. Pesquisa divulgada no ano passado pelo Global Ecolabel Monitor (Monitor Global de Selos Verdes) indicou que apenas um terço das organizações que outorgam selos verdes respondentes monitoram regularmente os seus impactos.
Para ganhar credibilidade e ampliar seu poder de fogo, muitos certificadores estão se submetendo à supervisão de outras organizações, sobretudo a ISEAL Alliance, a aliança internacional de sistemas de padronização social e ambiental. Ela propõe a seus membros diretrizes mínimas e está desenvolvendo mecanismos para que eles identifiquem e potencializem seus impactos positivos.
Qual a sua opinião sobre a proliferação de selos? Essa discussão já é relevante no Brasil?