Belém na rota da cultura eletrônica
Se o Brasil é hype lá fora, o Pará é pura moda no País. O tecnobrega está se espalhando que é uma maravilha e vai se besuntando de misturas em cada lugar onde chega. Sendo assim, é natural que Belém receba neste começo de setembro o Fórum Vivo arte.mov Eletronika – Arte, Música, Tecnologia e Conectividade. Um nome gigante para abarcar tudo o que está sendo feito e pensado de mais instigante nessas áreas todas, concomitantemente ou não.
É a primeira vez que o festival sai de Belo Horizonte, onde foi gestado. O trabalho de artistas locais terá destaque na programação, propiciando debates que relacionem novas tecnologias às produções artísticas, em diálogo com nomes de todo o país que estão atentos a essas transformações.
Esta edição em Belém busca traduzir o contexto complexo e rico da criação artística na cibercultura, em processos interativos, coletivos e planetários, as principais questões do universo digital contemporâneo e seus desdobramentos práticos e teóricos em produções multimídia, as fronteiras entre arte e tecnologia. Além dos sets sonoros, o evento traz concertos audiovisuais, arte digital, instalações, exposições, palestras e debates.
Literatura, pão e poesia
O poeta e agitador cultural Sérgio Vaz acaba de lançar seu sétimo livro. Para quem ainda não conhece, Sérgio é um dos criadores do Sarau da Cooperifa, um movimento que transformou o bar do Zé Batidão, em Piraporinha, na periferia sul de São Paulo, em grande centro cultural, reunindo pessoas em torno da poesia e da palavra.
Neste Literatura, Pão e Poesia, Vaz retrata em crônicas e poemas o cotidiano inspirador do “povo lindo e inteligente da periferia”, como gosta de dizer e que ele conhece tão bem. Para a professora Heloisa Buarque de Hollanda, autora do texto de apresentação, “para quem trabalha com tendências ou fica de olho nos novos horizontes da literatura, não há como não se dar conta da chegada da literatura marginal ou periférica, que veio com força e garra na virada do milênio”.
O poeta da periferia conta também com um posfácio escrito pela premiada jornalista Eliane Brum: “Sérgio Vaz é, ele mesmo, o criador daquela que talvez seja a maior poesia viva deste país – o Sarau da Cooperifa”.
Histórias que ficam
A Fundação CSN selecionará quatro projetos inéditos de documentários com o tema “Memória”. Além do patrocínio de até R$ 300 mil para cada produção, o programa “Histórias Que Ficam” vai dar consultoria durante todas as etapas de realização dos filmes. Vale para diretores iniciantes, com até um longametragem na carreira. Cada contemplado deve ser de uma região do Brasil, dentro da política de contribuir para a descentralização da produção audiovisual. Depois de finalizados, os documentários participarão de um circuito de exibição itinerante, em praças públicas de cidades Brasil afora. A opção primeira será por cidades com até 100 mil habitantes nas quais não haja sala de cinema. Inscrições até 13 de outubro, no site.
E a razão derreteu
E se René Descartes tivesse vindo ao Brasil na caravana de Maurício de Nassau? A partir da louca premissa, Paulo Leminski criou uma de suas mais difíceis e criativas experiências narrativas, o romance-ideia Catatau. E sobre a fantástica literatura de Leminski, o cineasta Cao Guimarães se debruçou para uma livre adaptação que resultou em Ex-Isto, o filme. Com o ator João Miguel interpretando um delirante René Descartes perdido na selva brasileira, Ex-Isto oferece uma aventura estética sensorial, com cenas surpreendentes – como o primeiro encontro do célebre matemático e filósofo francês com uma abóbora madura numa feira de rua do Recife.
O “penso, logo existo” – frase-símbolo da lógica cartesiana que se tornou popular – vai por água abaixo, enquanto Descartes desfruta, derrete e adoece sob o calor dos trópicos. Assim, também a respiração do espectador sai do modo acelerado e ganha ritmo meditativo, ao passo que se deixa conduzir pela estranheza e beleza desse embate racional/natural, literatura/cinema.
No turbilhão, três frases perturbadoras: “Vai me ver com outros olhos ou com os olhos dos outros?” “Nunca me deixe passar por acordado, tendem a0- provar que existo.” “Ver é uma fábula.” Em cartaz em São Paulo, Rio, Porto Alegre, Salvador, Santos e Fortaleza.