Embora algumas políticas desestimulem o uso, o mercado pode e deve usar da boa e velha madeira – desde que bem manejada – para reduzir emissões e combater o desmatamento
A madeira é um recurso natural renovável, abundante, reutilizável e reciclável. Surpreende, então, que a madeira seja preterida em favor de outros materiais como o aço e o concreto, cuja produção é intensiva em energia, recursos não renováveis e emissões de gases de efeito estufa (GEE).
A promoção do uso de madeira de florestas bem manejadas constitui uma sábia decisão. Muitos governos – europeus, dos Estados Unidos e do Japão – fomentam o uso de madeira. Contrariamente, outros restringem a sua utilização, por preferirem subsidiar setores econômicos mais influentes, ou pela dificuldade de garantir a origem dos produtos de florestas tropicais, como a Noruega e a Alemanha. É também o caso do estado de São Paulo.
De fato, o Brasil enfrenta barreiras para vender sua madeira nativa para países e governos com políticas de compras verdes. O sistema de comando e controle brasileiro, além de suscetível a fraudes, virou um obstáculo para esse mercado (Mais em Madeira de ponta a ponta: o caminho desde a floresta até o consumo )
O governo paulista, por exemplo, apresenta um contraditório: enquanto o seu Programa de Contratações Públicas Sustentáveis procura inserir critérios socioambientais nas licitações, a Política Estadual de Mudanças Climáticas (Pemc) [2] e o Programa Município Verde Azul [3] receitam restrição e redução do uso de madeira, incluindo a nativa.
[2]Iniciativa do governo paulista com o objetivo de descentralizar a política ambiental e estimular a competência gerencial dos municípios
[3] O estado paulista criou a Pemc, em novembro de 2009, estabelecendo a meta de redução de 20% das emissões de CO2 até 2020, tendo por base o ano de 2005
Reduzir o consumo é uma atitude louvável, mas, quando a produção de um bem se faz necessária, é preferível empregar produtos derivados de recursos naturais renováveis – como a madeira – do que os fabricados com base em recursos não renováveis e altamente emissores de GEE, como o cimento, aço e petróleo. O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) já em 1996 havia sugerido essa substituição.
A madeira é um material nobre e competitivo em relação a outros materiais de construção, dos pontos de vista técnico, estético e funcional, destacando-se pela sua beleza, durabilidade e por suas propriedades térmicas geradoras de conforto e economia, além de poder ser reutilizado e reaproveitado energeticamente. Contrariando ideias recorrentes, os edifícios de estrutura de madeira são relativamente seguros em casos de incêndio: a madeira é um material medianamente combustível e de baixa emissão de fumaça.
Mas os benefícios do uso da madeira não param por aí. Em termos de emissões globais de carbono, a madeira é um material de construção muito melhor do que os materiais como alumínio, aço e concreto. Ao substituir esses materiais, cada quilo de madeira aplicada reduz, em média, a emissão de 3,9 quilos de CO2, segundo revisão publicada no último número da revista Carbon Management.
A vantagem torna-se ainda mais expressiva ao olharmos os números de um estudo publicado na revista Environment Science & Policy: na Nova Zelândia, um aumento de 17% no uso de madeira pode levar a uma redução de 20% das emissões de carbono provenientes da fabricação de todos os materiais de construção. E no Brasil?
Faltam estudos sobre o setor madeireiro no Brasil, e as estatísticas de oferta e consumo precisam ser melhoradas. Mas sabe-se que os mercados de produtos florestais, inclusive os originários da Amazônia, podem ajudar a combater o vilão número 1 das emissões nacionais: o desmatamento.
Enquanto a legalidade no setor madeireiro ainda não se populariza, o uso de madeira com selos Cerflor ou FSC constitui via adequada. Os arquitetos, mestres de obras e engenheiros podem usar materiais mais sustentáveis do que o abusivo concreto armado, elemento do fetiche modernista. As escolas precisam reforçar o ensino do manejo florestal e da engenharia ecológica e, por fim, cabe aos políticos e técnicos avaliarem a aplicação dos instrumentos de políticas públicas, pois eles podem gerar resultados indesejáveis sob a ótica dos valores do desenvolvimento sustentável. De todo modo, qualquer aumento do uso de madeira deve vir acompanhado por aumento correspondente na área de floresta manejada a longo prazo.
Assim, a promoção do uso responsável de madeira manejada no Brasil pode ser uma medida simples e econômica para conservar florestas produtivas em pé e reduzir emissões de gases de efeito estufa.
*Gestor ambiental, pesquisador da FGV-Eaesp no Centro de Estudos em Administração Pública e Governo e no Programa Consumo Sustentável do GVCes[:en] Embora algumas políticas desestimulem o uso, o mercado pode e deve usar da boa e velha madeira – desde que bem manejada – para reduzir emissões e combater o desmatamento
A madeira é um recurso natural renovável, abundante, reutilizável e reciclável. Surpreende, então, que a madeira seja preterida em favor de outros materiais como o aço e o concreto, cuja produção é intensiva em energia, recursos não renováveis e emissões de gases de efeito estufa (GEE).
A promoção do uso de madeira de florestas bem manejadas constitui uma sábia decisão. Muitos governos – europeus, dos Estados Unidos e do Japão – fomentam o uso de madeira. Contrariamente, outros restringem a sua utilização, por preferirem subsidiar setores econômicos mais influentes, ou pela dificuldade de garantir a origem dos produtos de florestas tropicais, como a Noruega e a Alemanha. É também o caso do estado de São Paulo.
De fato, o Brasil enfrenta barreiras para vender sua madeira nativa para países e governos com políticas de compras verdes. O sistema de comando e controle brasileiro, além de suscetível a fraudes, virou um obstáculo para esse mercado (Mais em Madeira de ponta a ponta: o caminho desde a floresta até o consumo )
O governo paulista, por exemplo, apresenta um contraditório: enquanto o seu Programa de Contratações Públicas Sustentáveis procura inserir critérios socioambientais nas licitações, a Política Estadual de Mudanças Climáticas (Pemc) [2] e o Programa Município Verde Azul [3] receitam restrição e redução do uso de madeira, incluindo a nativa.
[2]Iniciativa do governo paulista com o objetivo de descentralizar a política ambiental e estimular a competência gerencial dos municípios
[3] O estado paulista criou a Pemc, em novembro de 2009, estabelecendo a meta de redução de 20% das emissões de CO2 até 2020, tendo por base o ano de 2005
Reduzir o consumo é uma atitude louvável, mas, quando a produção de um bem se faz necessária, é preferível empregar produtos derivados de recursos naturais renováveis – como a madeira – do que os fabricados com base em recursos não renováveis e altamente emissores de GEE, como o cimento, aço e petróleo. O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) já em 1996 havia sugerido essa substituição.
A madeira é um material nobre e competitivo em relação a outros materiais de construção, dos pontos de vista técnico, estético e funcional, destacando-se pela sua beleza, durabilidade e por suas propriedades térmicas geradoras de conforto e economia, além de poder ser reutilizado e reaproveitado energeticamente. Contrariando ideias recorrentes, os edifícios de estrutura de madeira são relativamente seguros em casos de incêndio: a madeira é um material medianamente combustível e de baixa emissão de fumaça.
Mas os benefícios do uso da madeira não param por aí. Em termos de emissões globais de carbono, a madeira é um material de construção muito melhor do que os materiais como alumínio, aço e concreto. Ao substituir esses materiais, cada quilo de madeira aplicada reduz, em média, a emissão de 3,9 quilos de CO2, segundo revisão publicada no último número da revista Carbon Management.
A vantagem torna-se ainda mais expressiva ao olharmos os números de um estudo publicado na revista Environment Science & Policy: na Nova Zelândia, um aumento de 17% no uso de madeira pode levar a uma redução de 20% das emissões de carbono provenientes da fabricação de todos os materiais de construção. E no Brasil?
Faltam estudos sobre o setor madeireiro no Brasil, e as estatísticas de oferta e consumo precisam ser melhoradas. Mas sabe-se que os mercados de produtos florestais, inclusive os originários da Amazônia, podem ajudar a combater o vilão número 1 das emissões nacionais: o desmatamento.
Enquanto a legalidade no setor madeireiro ainda não se populariza, o uso de madeira com selos Cerflor ou FSC constitui via adequada. Os arquitetos, mestres de obras e engenheiros podem usar materiais mais sustentáveis do que o abusivo concreto armado, elemento do fetiche modernista. As escolas precisam reforçar o ensino do manejo florestal e da engenharia ecológica e, por fim, cabe aos políticos e técnicos avaliarem a aplicação dos instrumentos de políticas públicas, pois eles podem gerar resultados indesejáveis sob a ótica dos valores do desenvolvimento sustentável. De todo modo, qualquer aumento do uso de madeira deve vir acompanhado por aumento correspondente na área de floresta manejada a longo prazo.
Assim, a promoção do uso responsável de madeira manejada no Brasil pode ser uma medida simples e econômica para conservar florestas produtivas em pé e reduzir emissões de gases de efeito estufa.
*Gestor ambiental, pesquisador da FGV-Eaesp no Centro de Estudos em Administração Pública e Governo e no Programa Consumo Sustentável do GVCes