Em diversas situações, adaptar-se ao aquecimento global, e até ajudar a combatê-lo, não requer tanta tecnologia assim
Se for usar o carro, que seja branco. Não às gravatas! Desligue o filtro da tomada e tome água de moringa, sim, meu caro, a velha e boa moringa d’água. Mais um passo à frente e você pode viver numa casa de adobe, fresca de dia, quente à noite, pela simples ação do sol. Se plantar uma parreira no quintal, na varanda ou no seu telhado, verá a maravilha que pode ser um ar condicionado natural, sem barulho que não o do vento chacoalhando as folhas.
Incluindo as complexas e essenciais metas para salvar o clima, nós, gente comum, temos à disposição um sem-número de medidas simples, algumas grátis, com sabor de nostalgia ou de gostosa esquisitice.
Os governos da Itália e do Chile, por exemplo, já se manifestaram pelo fim do uso das gravatas, apesar da briga com os fabricantes do acessório. Menos gravata, menos ar condicionado. No Brasil, a ideia cairia bem, pensando que temos mais sol por ano que os países citados. E a história nem nova é. Em 2007, as autoridades chilenas instruíram os funcionários públicos a não usar paletó e gravata para que os escritórios poupassem energia.
Na Itália, a iniciativa partiu do Ministério da Saúde, que lançou a campanha em prol do uso da roupa casual no trabalho durante o verão. Segundo o governo italiano, tirar a gravata diminui a temperatura do corpo de 2 a 3 graus. A Itália é um dos países da União Europeia que mais poluem e está entre os que devem exceder as metas de emissão de gases de efeito estufa.
Branco e verde
O Estado americano da Califórnia, que tem fama de estar na vanguarda da legislação ambiental, lançou uma proposta polêmica: impor limite mínimo para a refletividade da pintura dos carros. Os carros terão de refletir a luz solar com eficiência, para evitar que fiquem muito aquecidos quando expostos ao sol. Dessa forma, o veículo economiza no ar condicionado, consome menos combustível e lança menos carbono na atmosfera.
Viva os carros brancos? A faca é de dois gumes, alerta o educador ambiental da SOS Mata Atlântica, Vinícius Madazio. “O melhor é usar transporte público, andar a pé ou de bicicleta. Usar o carro e sozinho é sempre ruim, mesmo que seja branco.”
A Madazio empolga mais a ideia dos telhados brancos ou verdes. O topo dos prédios não consome combustível, o branco permite a reflexão maior da luz do sol, acumulando menos calor para as vidas terrestres. O telhado branco também proporciona conforto ambiental, eliminando mais uma vez o ar condicionado.
Quem saiu na frente no Estado de São Paulo foi Ilhabela. A Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado aderiu à campanha One Degree Less e escolheu o Conjunto Recanto dos Juritis como projeto-piloto. Assim, os telhados do conjunto serão todos brancos.
Mas isso não torna os prédios gigantes espelhados exemplo de benfeitoria ambiental. Vinícius Madazio explica que os espelhos refletem praticamente a totalidade da energia solar recebida, devolvendo para o resto da cidade todo aquele calorão. Nesses casos, por que não aproveitar a energia recebida em vez de expulsá-la? “Nós viramos as costas para o sol. Esses edifícios poderiam armazenar a energia solar para uso próprio”, diz.
Mais que os brancos, os telhados verdes são vistos com alegria pelos ambientalistas, e cada vez mais pelos cidadãos. Além de combater o aumento das temperaturas, reduzem a velocidade de vazão da água das chuvas, evitando enchentes.
Especialmente na megalópole paulistana, o telhado verde vem ganhando adeptos. É quase uma moda. O trabalho consiste em instalar um jardim em cima de casas, empresas ou apartamentos de cobertura. Além de colaborar para o meio ambiente, o telhado verde consegue reduzir em até 30% o valor da conta de luz. Ao garantir temperatura 5 graus menor no verão e 5 graus maior no inverno, reduz a necessidade do uso do aparelho de ar condicionado e do aquecedor. E os responsáveis garantem que a economia compensa os gastos iniciais. O metro quadrado Do telhado verde custa a partir de R$ 120.
Entre os outros benefícios do ecoteto estão a manutenção da umidade relativa do ar e o aumento da biodiversidade, ao atrair animais como pássaros, borboletas, lagartixas e joaninhas, além de minimizar o problema da impermeabilidade do solo, valorizar e embelezar o projeto do imóvel.
Um restaurante em São Paulo é inspiração para o verde que refresca. No Pasquale, uma parreira toma conta da varanda, criando um ar condicionado natural para os frequentadores e uma paisagem agradável enquanto se come um prato de massa. Madazio chama atenção para outras possibilidades, como uma abertura no telhado para a circulação do ar quente, de forma a tornar o ambiente mais agradável e econômico do ponto de vista energético.
“São cuidados na arquitetura e algumas ações inteligentes que podem ser adotadas sem muitos custos”, diz. Até mesmo o uso do barro nas construções, um material permeável, tem sido aconselhado. O barro refresca a casa no verão e aquece no inverno, ao contrário dos tijolos. A mesma eficiência natural de uma moringa, o recipiente de barro para armazenar água. Os antigos e mais ligados à terra já aplicavam isso de maneira intuitiva. “A gente perdeu muito da sabedoria dos mais velhos. Adotamos uma postura de não olhar com tanto carinho o que veio antes”, comenta.
Os novos tempos podem trazer de volta o que já existia de mais moderno.[:en]Em diversas situações, adaptar-se ao aquecimento global, e até ajudar a combatê-lo, não requer tanta tecnologia assim
Se for usar o carro, que seja branco. Não às gravatas! Desligue o filtro da tomada e tome água de moringa, sim, meu caro, a velha e boa moringa d’água. Mais um passo à frente e você pode viver numa casa de adobe, fresca de dia, quente à noite, pela simples ação do sol. Se plantar uma parreira no quintal, na varanda ou no seu telhado, verá a maravilha que pode ser um ar condicionado natural, sem barulho que não o do vento chacoalhando as folhas.
Incluindo as complexas e essenciais metas para salvar o clima, nós, gente comum, temos à disposição um sem-número de medidas simples, algumas grátis, com sabor de nostalgia ou de gostosa esquisitice.
Os governos da Itália e do Chile, por exemplo, já se manifestaram pelo fim do uso das gravatas, apesar da briga com os fabricantes do acessório. Menos gravata, menos ar condicionado. No Brasil, a ideia cairia bem, pensando que temos mais sol por ano que os países citados. E a história nem nova é. Em 2007, as autoridades chilenas instruíram os funcionários públicos a não usar paletó e gravata para que os escritórios poupassem energia.
Na Itália, a iniciativa partiu do Ministério da Saúde, que lançou a campanha em prol do uso da roupa casual no trabalho durante o verão. Segundo o governo italiano, tirar a gravata diminui a temperatura do corpo de 2 a 3 graus. A Itália é um dos países da União Europeia que mais poluem e está entre os que devem exceder as metas de emissão de gases de efeito estufa.
Branco e verde
O Estado americano da Califórnia, que tem fama de estar na vanguarda da legislação ambiental, lançou uma proposta polêmica: impor limite mínimo para a refletividade da pintura dos carros. Os carros terão de refletir a luz solar com eficiência, para evitar que fiquem muito aquecidos quando expostos ao sol. Dessa forma, o veículo economiza no ar condicionado, consome menos combustível e lança menos carbono na atmosfera.
Viva os carros brancos? A faca é de dois gumes, alerta o educador ambiental da SOS Mata Atlântica, Vinícius Madazio. “O melhor é usar transporte público, andar a pé ou de bicicleta. Usar o carro e sozinho é sempre ruim, mesmo que seja branco.”
A Madazio empolga mais a ideia dos telhados brancos ou verdes. O topo dos prédios não consome combustível, o branco permite a reflexão maior da luz do sol, acumulando menos calor para as vidas terrestres. O telhado branco também proporciona conforto ambiental, eliminando mais uma vez o ar condicionado.
Quem saiu na frente no Estado de São Paulo foi Ilhabela. A Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado aderiu à campanha One Degree Less e escolheu o Conjunto Recanto dos Juritis como projeto-piloto. Assim, os telhados do conjunto serão todos brancos.
Mas isso não torna os prédios gigantes espelhados exemplo de benfeitoria ambiental. Vinícius Madazio explica que os espelhos refletem praticamente a totalidade da energia solar recebida, devolvendo para o resto da cidade todo aquele calorão. Nesses casos, por que não aproveitar a energia recebida em vez de expulsá-la? “Nós viramos as costas para o sol. Esses edifícios poderiam armazenar a energia solar para uso próprio”, diz.
Mais que os brancos, os telhados verdes são vistos com alegria pelos ambientalistas, e cada vez mais pelos cidadãos. Além de combater o aumento das temperaturas, reduzem a velocidade de vazão da água das chuvas, evitando enchentes.
Especialmente na megalópole paulistana, o telhado verde vem ganhando adeptos. É quase uma moda. O trabalho consiste em instalar um jardim em cima de casas, empresas ou apartamentos de cobertura. Além de colaborar para o meio ambiente, o telhado verde consegue reduzir em até 30% o valor da conta de luz. Ao garantir temperatura 5 graus menor no verão e 5 graus maior no inverno, reduz a necessidade do uso do aparelho de ar condicionado e do aquecedor. E os responsáveis garantem que a economia compensa os gastos iniciais. O metro quadrado Do telhado verde custa a partir de R$ 120.
Entre os outros benefícios do ecoteto estão a manutenção da umidade relativa do ar e o aumento da biodiversidade, ao atrair animais como pássaros, borboletas, lagartixas e joaninhas, além de minimizar o problema da impermeabilidade do solo, valorizar e embelezar o projeto do imóvel.
Um restaurante em São Paulo é inspiração para o verde que refresca. No Pasquale, uma parreira toma conta da varanda, criando um ar condicionado natural para os frequentadores e uma paisagem agradável enquanto se come um prato de massa. Madazio chama atenção para outras possibilidades, como uma abertura no telhado para a circulação do ar quente, de forma a tornar o ambiente mais agradável e econômico do ponto de vista energético.
“São cuidados na arquitetura e algumas ações inteligentes que podem ser adotadas sem muitos custos”, diz. Até mesmo o uso do barro nas construções, um material permeável, tem sido aconselhado. O barro refresca a casa no verão e aquece no inverno, ao contrário dos tijolos. A mesma eficiência natural de uma moringa, o recipiente de barro para armazenar água. Os antigos e mais ligados à terra já aplicavam isso de maneira intuitiva. “A gente perdeu muito da sabedoria dos mais velhos. Adotamos uma postura de não olhar com tanto carinho o que veio antes”, comenta.
Os novos tempos podem trazer de volta o que já existia de mais moderno.