A energia solar fotovoltaica como conhecemos hoje não é renovável. A declaração veio de Paul Hawken, autor do livro Natural Capitalism, durante debate depois de uma palestra dias atrás aqui em Perth. Sem dúvida foi a afirmação mais polêmica de Hawken, que durante a apresentação pintou um quadro de otimismo ao abordar “o maior movimento do mundo” – objeto de seu último livro, Blessed Unrest –, composto por milhões de organizações que trabalham para restaurar o meio ambiente e promover a justiça social.
Ao abordar as energias renováveis, Hawken disse que o imenso investimento da China nas chamadas tecnologias limpas é equivocado. “São tecnologias velhas que as pessoas estão tentando adaptar, com exceção da energia eólica”, afirmou, acrescentando que os painéis fotovoltaicos derivam de tecnologia criada há mais de 50 anos pelo Bell Labs para uso extraterrestre.
Não foi a primeira vez que Hawken criticou a energia solar fotovoltaica. Em entrevista recente a uma rádio pública de São Francisco, o ativista disse que se a atual tecnologia para gerar energia solar fosse amplamente adotada, o mundo precisaria de 20% do PIB global para produzir energia. “O que se faz com a energia solar é pegar uma energia de alta intensidade, geralmente o carvão, como na China, e usá-la para produzir um gerador de energia de baixa intensidade, que colocamos no telhado”, disse. “O fato é que não se pode criar energia solar com energia solar, é preciso usar hidrocarbonetos”.
Segundo Hawken, o retorno energético sobre o investimento energético (EROEI) da energia solar fotovoltaica varia de 3 a 10:1 – ou seja, para cada unidade de energia usada, são geradas de 3 a 10 unidades de energia utilizáveis. É difícil confirmar o dado citado por Hawken e há quem questione o uso do EROEI para avaliar a performance energética. No caso da energia solar, por exemplo, a medida não leva em conta o fato de que a produção de painéis solares requer muita energia, mas o retorno ocorre ao longo de anos.
Embora considere a fotovoltaica uma “tecnologia falida” que recebeu bilhões de dólares em subsídios, Hawken reafirma que a energia solar “é a energia certa”. “O que temos que fazer é transformar fótons em elétrons e há tecnologias nascentes para isso no Vale do Silício”, diz. O próprio Hawken é CEO de uma empresa que tenta desenvolver tais tecnologias, a OneSun, criada em 2009 em parceria com a bióloga Janine Benyus – que cunhou o termo biomimética – e John Warner – que atua no campo da química verde.
Pouco se sabe sobre a empresa além de que está usando princípios biomiméticos para imitar a forma com que as folhas das plantas usam a energia do sol e assim desenvolver filmes solares feitos de materiais comuns e baratos. “Não falamos em público ou na mídia sobre a empresa por algumas razões”, disse Hawken em uma entrevista. “Uma é que no ramo solar há bastante exagero, com projetos científicos disfarçados de tecnologias viáveis. Teremos muito a dizer quando e se formos bem sucedidos, e achamos que vamos ser. Mas se falharmos, pelo menos não teremos agido como bobos”.
Enquanto o mundo espera para conhecer novas tecnologias, a energia solar fotovoltaica continua em alta. A indústria de painéis solares é a que mais cresceu no setor de energias renováveis na última década. Em 2010 a capacidade instalada para gerar energia solar globalmente era de 40 gigawatts, e há previsões de que chegue a 400 gigawatts até 2020.