Colapso iminente do MDL e das negociações climáticas em Durban não deverá reverter envolvimento corporativo no tema
Ao longo de 2009, a avaliação das empresas mais avançadas no tema da sustentabilidade era a de que um fracasso das negociações para um acordo global sobre as emissões de gases-estufa na conferência do clima de Copenhague, a COP 15, causaria forte abalo na transição rumo a uma economia de baixo carbono. No entanto, o envolvimento da comunidade de negócios com a discussão climática não arrefeceu, como muitos analistas previram na época.
Mais que isso, a crescente participação de empresas em iniciativas climáticas e a expansão dos negócios com tecnologias limpas explicam por que um tão temido colapso no Mecanismo de Desenvolvimento Limpo do Protocolo de Kyoto (MDL), cuja continuidade está associada diretamente às negociações do acordo global, não inverteria a rota ascendente dos investimentos em tecnologias limpas. A probabilidade de conclusão do acordo é baixa na conferência de Durban, na África do Sul, a COP-17, que ocorrerá de 29 de novembro a 9 de dezembro.
Apesar do cenário sombrio para o acordo global e o MDL, os governos estão montando um aparato regulatório com regras para a diminuição nas emissões, a exemplo da Política Nacional sobre Mudança do Clima (PNMC). Tal cenário regulatório explica em boa parte por que o setor privado fortaleceu sua atuação na temática, mesmo após o malogro de Copenhague.
Uma das evidências dessa tendência é o número de empresas que seguem a metodologia da versão brasileira do GHG Protocol em seus inventários de emissões – eram 27 na estreia do projeto, em 2008, e hoje já são 77.
Há inúmeras contradições nas ações das grandes empresas, como a batalha histórica do setor de energia para afrouxar regras no licenciamento ambiental. Mas é notório que a preocupação climática entrou no planejamento estratégico das companhias, que a avaliam como imprescindível para sua sobrevivência econômica. Atestam essa tendência empresas líderes em seus setores, tais como Votorantim Cimentos,Tractebel Energia e BRF – Brasil Foods.
“Um eventual fim do mercado para os créditos de carbono do MDL não teria grande impacto sobre nossa empresa”, analisa Patrícia Montenegro, gerente corporativa de meio ambiente da Votorantim Cimentos. Segundo ela, a empresa é uma das mais eficientes do mundo na gestão das emissões de gás carbônico no mercado de cimento, setor muito intensivo em carbono.
Entre 1990 e 2010, a Votorantim reduziu em 16% suas emissões de CO2 por tonelada de cimento produzido, atingindo a meta antes do prazo de 2012 estabelecido pela Iniciativa do Cimento Sustentável (CSI, na sigla em inglês).
“Não estamos esperando por um acordo climático para tomar decisões sobre investimentos em energia renovável”, declara Luciano Andriani, diretor de comunicação e sustentabilidade da Tractebel Energia, controlada pelo grupo francês GDF Suez, que detém 50,1% do capital da controversa usina de Jirau, no Rio Madeira. Segundo Andriani, o último investimento em usinas térmicas movidas a combustíveis fósseis foi efetuado dez anos atrás, quando a Tractebel colocou em operação uma planta a gás natural em Campo Grande.
De lá pra cá, a empresa tem ampliado sua capacidade geradora apenas em usinas hidrelétricas médias e grandes e no que chama de fontes complementares – pequenas centrais hidrelétricas (PCHs) e usinas eólicas e de biomassa, que somam hoje 160 megawatts (MW). Outros cinco parques eólicos estão sendo construídos no Ceará e Piauí, com investimentos de R$ 630 milhões e geração prevista de 145,6 MW.
“O MDL nos permitiu conhecer melhor o tema das mudanças climáticas e despertou a empresa para os problemas acarretados pelas emissões de gases de efeito estufa”, reflete Marco Antonio Santos, especialista em meio ambiente e inovação da Brasil Foods (BRF), companhia derivada da fusão das operações da Perdigão com a Sadia. Foi a partir dos projetos do MDL com redução de emissões de metano na suinocultura, avalia Santos, que as duas companhias se tornaram bastante ativas na questão climática na comunidade corporativa.
A Sadia foi membro fundador da versão nacional do GHG Protocol em 2008 e informa dados de seu inventário de emissões ao Carbon Disclosure Project (CDP) desde 2006, segundo Santos, que destaca o crescente conteúdo renovável da matriz energética da BRF. Perto de 95% da energia direta consumida pela empresa provêm de fontes renováveis, que não liberam gases-estufa na atmosfera.
“O MDL cumpriu papel pedagógico importante ao funcionar como elemento significativo na inserção do mundo corporativo brasileiro em iniciativas climáticas”, sintetiza Marina Grossi, presidente do Conselho Brasileiro de Desenvolvimento Sustentável (Cebds).