Sim, mas desde que haja vontade política e capacidade de traduzi-la em uma ação conjugada entre os países das Nações Unidas
Parafraseando o presidente Barack Obama, direi “sim, podemos”, ou melhor, “sim, ainda podemos”, conquanto tomemos em tempo hábil as medidas necessárias para não transformar o nosso planeta Terra numa gigantesca Ilha de Páscoa, cuja civilização foi destruída pela incúria dos seus habitantes. Isto para dizer que concordo com o conhecido ambientalista e agroeconomista norte-americano Lester R. Brown, cujo último livro se intitula: World on the Edge: How to prevent environmental and economic collapse (Washington: Earth Policy Institute, 2011).
O caminho é estreito, porém existe, ainda que a humanidade esteja hoje tirando do planeta Terra recursos em quantidade superior à que os ecossistemas podem suportar de maneira duradoura. Lester Brown parte em guerra contra o nosso sistema de contabilidade, acreditando que as restrições ecológicas nos obrigam a renovar a ciência econômica (Páginas 8 e 9 do livro World on the Edge: How to prevent environmental and economic collapse).
Deve-se a este autor um plano B capaz de reduzir em 80% as emissões globais de carbono até o ano 2020, estabilizar a população mundial ao redor de 8 bilhões antes de 2040, erradicar a pobreza em escala planetária, restaurando ao mesmo tempo as florestas, os solos, os aquíferos e os recursos pesqueiros.
Um ponto crucial é a prevenção do aumento da concentração de gás carbônico na atmosfera. Caso contrário, corremos o risco de um aquecimento climático que provocaria uma redução na produção mundial dos cereais e, “no final das contas, o aniquilamento de toda a nossa civilização” (Página 55).
Para financiar o plano mencionado acima, o autor propõe a taxação das emissões de carbono compensada por uma redução do imposto da renda. Steven Chu, secretário de Energia americano, também se pronunciou em favor de um preço mundial de carbono (entrevista concedida ao Le Monde, 27/10/2011).
Os estudos realizados pelo Earth Policy Institute, presidido por Brown, estimam em menos de US$ 200 bilhões os investimentos anuais necessários, apenas um oitavo das atuais despesas militares em escala mundial.
O grande mérito do livro de Lester Brown é o de mostrar, por um lado, os perigos que nos ameaçam, na falta de uma mudança radical do estilo de desenvolvimento, e, por outro, que as tecnologias necessárias para tanto existem.
Para citar um só exemplo, a Academia Americana de Ciências estimou que o potencial da produção terrestre de energia eólica supera em 40 vezes o consumo atual da eletricidade (Páginas 117 e 118). Na China, a energia eólica poderia cobrir 16 vezes o consumo atual de eletricidade do país.
O plano B de Lester Brown prevê a instalação de 4 mil gigawatts eólicos, o que seria suficiente para cobrir mais da metade da demanda mundial de eletricidade, mas exigiria que a capacidade instalada quase dobre de dois em dois anos. Teríamos de instalar nos próximos dez anos 2 milhões de usinas com capacidade de 2 megawatts cada uma a um custo de US$ 3 milhões por unidade. Em escala mundial, tal objetivo exigiria, portanto, um investimento anual de US$ 600 bilhões por ano.
Esse número, à primeira vista extremamente elevado, deve ser comparado com as despesas globais com gás e petróleo, que deverão passar de US$ 800 bilhõesem 2010 a US$ 1,6 trilhão em 2015. Outro termo de comparação é oferecido pelo custo de 70 milhões de automóveis produzidos anualmente no mundo.
O autor é ainda mais entusiasta com relação às energias solar e geotérmica. Os pesquisadores do MIT avaliaram em 2006 o potencial americano em eletricidade geotérmica como equivalente a 2 mil vezes as necessidades energéticas dos Estados Unidos (Página 128).
Em compensação, Brown considera que, “em um mundo onde as terras cultiváveis começam a faltar, as culturas de caráter energético não podem rivalizar com a eletricidade e ainda menos com a energia eólica” (Página 130). Sem esquecer a energia maremotriz, capaz de fornecer 10 mil gigawatts de eletricidade (Página 131) e o enorme potencial de ganhos de produtividade na produção e consumo da energia.
Assim, o nosso autor postula a redução de 80% nas emissões de carbono até 2020 e uma queda de 90% na produção de energia elétrica à base de combustíveis fósseis, compensada por um crescimento quíntuplo da geração de energias renováveis.
A falta de espaço não permite reproduzir todas as propostas tecnológicas reunidas no livro em debate que sustentam a tese otimista de que “já dispomos de tecnologias e de recursos financeiros para regular o clima, erradicar a pobreza, estabilizar a população, restaurar os ecossistemas que sustentam a economia e, sobretudo, fazer com que a esperança renasça” (Página 198).
O que falta, então? O mais importante, a vontade política e a capacidade de traduzi-la em uma ação conjugada dos países-membros das Nações Unidas, para fazer com que o plano B de Brown se tranforme de um ponto de partida em um verdadeiro plano de ação. O tempo urge. Daí a importância da Rio+20.
*Ecossocioeconomista da École des Hautes Études en Sciences Sociales[:en]Sim, mas desde que haja vontade política e capacidade de traduzi-la em uma ação conjugada entre os países das Nações Unidas
Parafraseando o presidente Barack Obama, direi “sim, podemos”, ou melhor, “sim, ainda podemos”, conquanto tomemos em tempo hábil as medidas necessárias para não transformar o nosso planeta Terra numa gigantesca Ilha de Páscoa, cuja civilização foi destruída pela incúria dos seus habitantes. Isto para dizer que concordo com o conhecido ambientalista e agroeconomista norte-americano Lester R. Brown, cujo último livro se intitula: World on the Edge: How to prevent environmental and economic collapse (Washington: Earth Policy Institute, 2011).
O caminho é estreito, porém existe, ainda que a humanidade esteja hoje tirando do planeta Terra recursos em quantidade superior à que os ecossistemas podem suportar de maneira duradoura. Lester Brown parte em guerra contra o nosso sistema de contabilidade, acreditando que as restrições ecológicas nos obrigam a renovar a ciência econômica (Páginas 8 e 9 do livro World on the Edge: How to prevent environmental and economic collapse).
Deve-se a este autor um plano B capaz de reduzir em 80% as emissões globais de carbono até o ano 2020, estabilizar a população mundial ao redor de 8 bilhões antes de 2040, erradicar a pobreza em escala planetária, restaurando ao mesmo tempo as florestas, os solos, os aquíferos e os recursos pesqueiros.
Um ponto crucial é a prevenção do aumento da concentração de gás carbônico na atmosfera. Caso contrário, corremos o risco de um aquecimento climático que provocaria uma redução na produção mundial dos cereais e, “no final das contas, o aniquilamento de toda a nossa civilização” (Página 55).
Para financiar o plano mencionado acima, o autor propõe a taxação das emissões de carbono compensada por uma redução do imposto da renda. Steven Chu, secretário de Energia americano, também se pronunciou em favor de um preço mundial de carbono (entrevista concedida ao Le Monde, 27/10/2011).
Os estudos realizados pelo Earth Policy Institute, presidido por Brown, estimam em menos de US$ 200 bilhões os investimentos anuais necessários, apenas um oitavo das atuais despesas militares em escala mundial.
O grande mérito do livro de Lester Brown é o de mostrar, por um lado, os perigos que nos ameaçam, na falta de uma mudança radical do estilo de desenvolvimento, e, por outro, que as tecnologias necessárias para tanto existem.
Para citar um só exemplo, a Academia Americana de Ciências estimou que o potencial da produção terrestre de energia eólica supera em 40 vezes o consumo atual da eletricidade (Páginas 117 e 118). Na China, a energia eólica poderia cobrir 16 vezes o consumo atual de eletricidade do país.
O plano B de Lester Brown prevê a instalação de 4 mil gigawatts eólicos, o que seria suficiente para cobrir mais da metade da demanda mundial de eletricidade, mas exigiria que a capacidade instalada quase dobre de dois em dois anos. Teríamos de instalar nos próximos dez anos 2 milhões de usinas com capacidade de 2 megawatts cada uma a um custo de US$ 3 milhões por unidade. Em escala mundial, tal objetivo exigiria, portanto, um investimento anual de US$ 600 bilhões por ano.
Esse número, à primeira vista extremamente elevado, deve ser comparado com as despesas globais com gás e petróleo, que deverão passar de US$ 800 bilhõesem 2010 a US$ 1,6 trilhão em 2015. Outro termo de comparação é oferecido pelo custo de 70 milhões de automóveis produzidos anualmente no mundo.
O autor é ainda mais entusiasta com relação às energias solar e geotérmica. Os pesquisadores do MIT avaliaram em 2006 o potencial americano em eletricidade geotérmica como equivalente a 2 mil vezes as necessidades energéticas dos Estados Unidos (Página 128).
Em compensação, Brown considera que, “em um mundo onde as terras cultiváveis começam a faltar, as culturas de caráter energético não podem rivalizar com a eletricidade e ainda menos com a energia eólica” (Página 130). Sem esquecer a energia maremotriz, capaz de fornecer 10 mil gigawatts de eletricidade (Página 131) e o enorme potencial de ganhos de produtividade na produção e consumo da energia.
Assim, o nosso autor postula a redução de 80% nas emissões de carbono até 2020 e uma queda de 90% na produção de energia elétrica à base de combustíveis fósseis, compensada por um crescimento quíntuplo da geração de energias renováveis.
A falta de espaço não permite reproduzir todas as propostas tecnológicas reunidas no livro em debate que sustentam a tese otimista de que “já dispomos de tecnologias e de recursos financeiros para regular o clima, erradicar a pobreza, estabilizar a população, restaurar os ecossistemas que sustentam a economia e, sobretudo, fazer com que a esperança renasça” (Página 198).
O que falta, então? O mais importante, a vontade política e a capacidade de traduzi-la em uma ação conjugada dos países-membros das Nações Unidas, para fazer com que o plano B de Brown se tranforme de um ponto de partida em um verdadeiro plano de ação. O tempo urge. Daí a importância da Rio+20.
*Ecossocioeconomista da École des Hautes Études en Sciences Sociales