Quando estudava a possibilidade de me mudar para Portland, na Costa Oeste dos Estados Unidos, cidade que louvei neste espaço por sua sustentabilidade e qualidade de vida (“Portland, paraíso liberal“), entrei em fóruns na internet e perguntei para quem passasse pela minha frente se ela era realmente boa para se viver e criar uma família. Absolutamente todos que entrevistei me deram a mesma resposta – Portland é perfeita, mas tem um inverno miserável. Ouvi histórias de horror, como a do médico que encontrou a mulher enforcada no porão devido à depressão agravada pelo permanente cinza dos céus. E, claro, quando ficavam sabendo que eu pretendia me mudar no fim do outono, me chamaram de louca. A cidade estaria úmida, fria, insuportável.
Pois bem: passaram-se dois meses de pouca chuva, céus azuis um terço do tempo e temperaturas na faixa dos 10 graus Celsius. Não passa um dia sem que eu faça uma caminhada num dos bosques perto de casa (sim, morram de inveja). As pistas de esqui nas redondezas estão com pouco movimento, por que o volume de neve é o menor em 12 anos.
Não é um fato isolado. O inverno deste ano está particularmente fora da curva. Mais de mil cidades norte-americanas registraram recordes de calor e algumas estão com temperaturas médias até 4 graus acima das do ano passado. Apenas 19% do país estão cobertos de neve, contra uma média de 50% nesta época.
O interessante, nesse episódio, é notar que a maioria da população está celebrando o clima agradável, sem grandes preocupações. Poucos estão associando o fenômeno ao aquecimento global, tão lembrado quando a revolta do clima provoca inundações e compromete a qualidade de vida do cidadão. Claro, o calorzinho é uma delícia, mas tenho medo que seja um equivalente do refluxo anormal do mar que atrai milhares para a praia – e que multiplica a mortandade causada pelos tsunamis.[:en]
Quando estudava a possibilidade de me mudar para Portland, na Costa Oeste dos Estados Unidos, cidade que louvei neste espaço por sua sustentabilidade e qualidade de vida (“Portland, paraíso liberal“), entrei em fóruns na internet e perguntei para quem passasse pela minha frente se ela era realmente boa para se viver e criar uma família. Absolutamente todos que entrevistei me deram a mesma resposta – Portland é perfeita, mas tem um inverno miserável. Ouvi histórias de horror, como a do médico que encontrou a mulher enforcada no porão devido à depressão agravada pelo permanente cinza dos céus. E, claro, quando ficavam sabendo que eu pretendia me mudar no fim do outono, me chamaram de louca. A cidade estaria úmida, fria, insuportável.
Pois bem: passaram-se dois meses de pouca chuva, céus azuis um terço do tempo e temperaturas na faixa dos 10 graus Celsius. Não passa um dia sem que eu faça uma caminhada num dos bosques perto de casa (sim, morram de inveja). As pistas de esqui nas redondezas estão com pouco movimento, por que o volume de neve é o menor em 12 anos.
Não é um fato isolado. O inverno deste ano está particularmente fora da curva. Mais de mil cidades norte-americanas registraram recordes de calor e algumas estão com temperaturas médias até 4 graus acima das do ano passado. Apenas 19% do país estão cobertos de neve, contra uma média de 50% nesta época.
O interessante, nesse episódio, é notar que a maioria da população está celebrando o clima agradável, sem grandes preocupações. Poucos estão associando o fenômeno ao aquecimento global, tão lembrado quando a revolta do clima provoca inundações e compromete a qualidade de vida do cidadão. Claro, o calorzinho é uma delícia, mas tenho medo que seja um equivalente do refluxo anormal do mar que atrai milhares para a praia – e que multiplica a mortandade causada pelos tsunamis.