Um em cada seis paulistanos deixaria a cidade se pudesse. É o que mostra a pesquisa do Irbem, indicador de bem-estar do município, da Rede Nossa São Paulo
Se o Irbem (Indicadores de Referência de Bem-Estar no Município) de São Paulo fosse uma prova, a cidade estaria reprovada com nota vermelha de 4,9. O indicador mostra o nível de satisfação da população, que avalia 169 itens, divididos em 25 temas. A nota máxima pode ser 10 (totalmente satisfeito) e a mínima, 1 (totalmente insatisfeito), portanto a média considerada é 5,5.
A quinta edição da pesquisa foi lançada em 18 de janeiro pela Rede Nossa São Paulo em parceria com o Ibope, marcando o início do ano eleitoral dos paulistanos. Estiveram presentes para comentá-la os pré-canditados à prefeitura Gabriel Chalita (PMDB), Netinho de Paula (PC do B) e Soninha Francine (PPS) e os representantes de partidos políticos: Mauricio Costa, do PSOL, Antonio Donato, vereador pelo PT e Luiz Carlos Bosio, do PV.
Para a pesquisa, foram ouvidas 1.512 pessoas de no mínimo 16 anos, entre 25 de novembro e 12 de dezembro de 2011. A margem de erro é de 3 pontos percentuais para mais ou para menos. No site da Rede Nossa São Paulo estão disponíveis os resultados detalhados.
Comparando com as pesquisas anteriores, a nota final de satisfação pouco mudou e mostra que ainda há muito trabalho para que os índices possam ser comemoráveis. Em 2009, a média ficou em 4,8 e em 2010, em 5,0.
O mais interessante – mas pouco animador – é que entre os 25 temas avaliados, apenas 5 estão acima da média e são todos temas subjetivos, sem vínculo com a prestação do serviço público: relações humanas (6,8), religião e espiritualidade (6,5), tecnologia da informação (6,1), trabalho (6,0), sexualidade (5,7) e consumo (5,6). Em relações humanas, por exemplo, é questionada a qualidade da relação familiar, com a comunidade e a frequência de trabalho voluntário. Já sobre religião, os dois itens com maiores notas foram “grau de coerência da sua vida em relação aos ensinamentos religiosos” e “convivência harmoniosa entre as diferentes religiões”.
Um dos dados mais comentados na apresentação do Irbem foi a queda no número de paulistanos que acredita que a qualidade de vida na cidade melhorou. Com isso, 56% dos entrevistados afirmaram que mudariam de cidade se tivessem a oportunidade. Em 2010, esse numero foi de 51%.
O meio ambiente foi um dos temas que teve nota menor em 2011 (4,7) do que no ano anterior (4,9), e de seus itens detalhados, apenas dois tiveram percepção melhor na pesquisa recente: “serviço de limpeza pública e de terrenos baldios” e “manutenção de bueiros e galerias e controle de enchentes”, respectivamente com pontuações de 4,6 e 4,5.
Já o item “sua consciência e responsabilidade ambiental” foi de 6,5 para 5,9 e “coleta seletiva” – que tinha melhorado entre 2009 e 2010 – caiu 0,7 pontos, finalizando com 5,2. Segundo Márcia Cavallari, diretora executiva de atendimento e planejamento do IBOPE, isso representa uma maior conscientização das pessoas que estão mais críticas às medidas relacionadas ao meio ambiente.
Os piores índices avaliados foram: transparência e participação política (3,5), acessibilidade para pessoas com deficiência (3,9) e desigualdade social (4,0). E as piores notas, dadas aos itens relacionados à transparência de gastos públicos, punição à corrupção e honestidade dos governantes (todos com 2,9). 69% dos entrevistados disseram que não tem confiança na Câmara dos Vereadores, 59% não confiam nas Subprefeituras e 55%, na Polícia Civil.
Gabriel Chalita, pré-candidato do PMDB e atual deputado federal, chamou de “vergonhosa” a falta de confiança da população com a política. “Alguma razão o povo tem. Há algo de errado no modo como fazemos política ou em como nós políticos estamos nos comunicando”. Ele chamou também São Paulo de uma “cidade de invisíveis” que não conseguem ter as demandas atendidas pelos governantes. “Quando olho isso [a pesquisa], vejo como nós políticos estamos sendo incompetentes. Uma pessoa que leva 50 dias para marcar uma consulta médica é invisível na sociedade”, disse sobre as comparações entre o serviço público de saúde, em que a média de espera para uma consulta é de 50 dias, e o particular, de duas semanas.
Em relação ao transporte público, no ano em que várias estações da nova Linha Amarela do metrô foram inauguradas, paradoxalmente, a população avaliou o tamanho da rede pior do que em 2010. A queda foi de 6,2 para 5,9. “Parece que a quanto mais linhas são abertas, mais as pessoas percebem a necessidade do transporte e querem mais”, avaliou Márcia.
Desigualtômetro
Entre os distritos, o que recebeu a nota mais alta de satisfação foi Pinheiros (5,4), Itaim Paulista, Guaianazes e Cidades Tiradentes (5,3). E o pior foi Capela do Socorro e Cidade Ademar (4,6).
Para comparar a qualidade de vida entre os distritos, a pesquisa do Irbem expôs dados quantitativos e comparou os maiores e menores, explicitando as desigualdades de São Paulo com um índice chamado “desigualtômetro”. Com ele, é possível entender melhor o porquê das insatisfações em temas como educação, transporte e trabalho.
Por exemplo, a porcentagem de empregos na região de Itaim Bibi em relação ao total da cidade é de 7,56%. Já em Marsilac, no extremo sul, de 0,003%. O resultado do “desigualtômetro” é que há 2.218,6 vezes mais empregos em um distrito que no outro.
Antonio Donato, vereador pelo PT comentou esse dado. Ele representava o pré-candidato do seu partido, Fernando Haddad, que por ainda ser ministro do governo, não pôde comparecer. Para ele, São Paulo precisa de um novo modelo de desenvolvimento que não jogue os cidadãos para bairros dormitórios, mas que distribua a renda e os empregos. “É preciso um centro com a cara de São Paulo, um que não expulse os mais pobres, mas que tenha espaço para os pobres e para a classe média. Existem hoje cerca de 30 mil imóveis vazios no centro e as pessoas têm que vir do extremo da cidade trabalhar”.
Já a pré-candidata e subprefeita da Lapa, Soninha Francine, destacou que a percepção é determinante na relação das pessoas com a cidade. Não basta ser um lugar seguro, as pessoas têm que sentir segurança para sair de casa, disse. Para ela, os dados sobre desconfiança mostram que os políticos precisam, mais do que dar transparência, dar clareza nos dados que oferecem em sites na internet para a população sobre gastos e governalibidade.