Programa federal de moradias deve mais que triplicar área de painéis para aquecimento de água
Se a presidente Dilma Rousseff desbloquear as verbas de seu principal programa habitacional, o Brasil colocará em prática o maior programa de aquecimento solar para moradias populares da América Latina. Embora ainda seja nanico no mercado mundial de energia solar para aquecimento de água, o País poderá ampliar em 240% a área instalada com painéis solares até 2014, para pouco mais de 21 milhões de metros quadrados. A liderança brasileira na América Latina seria ainda mais acentuada, deixando muito para trás o segundo país, o México, com área de 1,5 milhões de metros quadrados, um quarto de nosso parque solar térmico, de acordo com o Departamento Nacional de Aquecimento Solar, da Associação Brasileira de Refrigeração, Ar Condicionado, Ventilação e Aquecimento (Dasol/Abrava).
Dos 2 milhões de moradias a serem construídas entre 2011 e 2014, 860 mil deverão conter obrigatoriamente sistemas de aquecimento solar. No total, está prevista a instalação de 15 milhões de metros quadrados de coletores solares nos telhados das casas de famílias que ganham até três salários mínimos. O desafio é grande, tendo em vista que apenas 40 mil residências da primeira etapa do programa Minha Casa, Minha Vida foram entregues com painéis solares – o requisito não era compulsório. O principal argumento para o uso de aquecimento solar em moradias de baixa renda é o benefício econômico e ambiental de equipamentos como o chuveiro elétrico, que responde por 28% do consumo de energia.
“A perspectiva de colocar aquecedor solar em 860 mil residências permite à tecnologia que ganhe escala, além de reduzir em cerca de R$ 1,5 bilhão o montante de investimentos na expansão do parque gerador e distribuidor de energia elétrica”, calcula o urbanista Eduardo Baldacci, que faz parte do GT Solar, grupo responsável pela definição de critérios de instalação dos coletores solares nas casas do programa habitacional de Dilma. O urbanista Baldacci também destaca o componente social do programa. “A economia na conta de luz das famílias de baixa renda é palpável. Chega a 40% em alguns casos.”
A indústria de aquecedores solares reclama da morosidade do programa. “Embora expressivo, ele foi pouco operacionalizado em 2011, o que exigirá do governo esforço redobrado para compensar o tempo perdido”, preconiza Marcelo Mesquita, gestor do Dasol. Segundo ele, a demora foi causada pela transição entre Lula e Dilma. O Ministério das Cidades não esclareceu à reportagem os motivos do atraso. “Mesmo com esse atraso, acreditamos na viabilidade do programa. A indústria nacional tem capacidade para atender ao aumento substancial da demanda, uma vez que recentemente realizou investimentos”, tranquiliza Mesquita, sem fornecer detalhes sobre os aportes das empresas.
Hoje, diz ele, a indústria opera com capacidade ociosa, em apenas um turno diário, o que abre margem para adicionar mais dois turnos. O investimento total previsto na fase 2 do Minha Casa, Minha Vida é de R$ 125,7 bilhões. Dos 2 milhões de moradias que o governo pretende entregar, só 354 mil unidades foram contratadas, segundo balanço divulgado em dezembro pela presidente Dilma. Ou seja, menos de 18% do total.
Para driblar o atraso do programa, secretarias estaduais de habitação estão se aliando ao governo federal. Um exemplo disso é a agência de fomento à habitação Casa Paulista, criada em setembro de 2011 pela Secretaria de Habitação do Estado de São Paulo com o objetivo de ampliar a oferta de moradias e a captação de recursos para esse fim. Um dos meios é utilizar recursos do Minha Casa, Minha Vida.
Segundo Reinaldo Iapequino, subsecretário da Casa Paulista, as 150 mil moradias a serem construídas entre 2012 e 2015 deverão incorporar sistemas de aquecimento solar e outras tecnologias verdes, a exemplo do que já vem sendo feito pela Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano de São Paulo (CDHU).
Além disso, a parceria buscará compartilhar tecnologias de construção verde com os gestores do programa federal. Na avaliação de Marcos Casado, gerente-técnico do Green Building Council Brasil, o uso de tecnologias verdes ainda é tímido no programa. Isso se deve, em parte, ao mito de que adotar padrões de construção verde “custa caro”.
“Quando os primeiros empreendimentos foram inaugurados, falava-se em custo adicional de 30% em relação a um projeto sem tecnologias sustentáveis. Era o preço do aprendizado”, lembra Casado. Hoje, afirma, é possível construir adotando tais tecnologias gastando cerca de 5% a mais no projeto. “Mas o investimento também tem retorno financeiro rápido, uma vez que diminuem gastos com água, energia e manutenção.”