O plástico está em toda a parte. Graças ao baixo custo, facilidade de fabricação, versatilidade e impermeabilidade, desbancou outros materiais e é usado na produção de quase tudo, de canetas a espaçonaves. Mas, apesar da ubiqüidade e de seu valor para a sociedade contemporânea, menos de 10% dos plásticos descartados são reciclados. Enquanto produtos como garrafas d’água são feitos de um só tipo de plástico, celulares, computadores e aparelhos de TV contêm pelo menos uma dezena de diferentes tipos de plástico, o que complica a separação. A dificuldade, porém, não deteve o engenheiro americano Michael Biddle, que desde o início dos anos 90 se dedica a desenvolver métodos e técnicas para reciclar plásticos.
Biddle começou com experimentos em um laboratório em sua garagem na Califórnia, tomou emprestado dinheiro, assim como conceitos dos setores de mineração e de processamento de grãos, e hoje dirige a MBA Polymers, uma multinacional líder em “plásticos minerados sustentavelmente a partir de bens duráveis descartados”, com plantas na Europa e na China. No meio do caminho, patenteou processos para extrair metais magneticamente de produtos de consumo, retalhar os plásticos restantes, separá-los de acordo com o tipo de polímero e produzir pelotas que, reutilizadas na fabricação de novos produtos, fecham o ciclo de vida do plástico.
Todo dia, as plantas da MBA extraem o plástico de 500 mil quilos de equipamentos descartados – parece muito, diz Biddle, mas é menos de 1% do total de bens duráveis jogados no lixo. São produtos complexos feitos de vários materiais que precisam ser separados antes de seguir para a reciclagem.
Apesar da complexidade, a MBA diz que seus processos usam menos de 20% da energia necessária para a produção de plástico virgem a partir do petróleo e geram muito menos emissões de CO2. Além disso, a reciclagem reduz a quantidade de plástico descartado que acaba incinerada, jogada em lixões ou exportada para países em desenvolvimento.
A empresa de Biddle é um caso de sucesso e prova das oportunidades em uma economia de baixo carbono. Mas para além da persistência de Biddle, de sua formação e de sua capacidade de levantar recursos, foi preciso contar com políticas públicas favoráveis. E isso ele encontrou somente fora dos Estados Unidos.
“É preciso mais do que entusiasmo [pela reciclagem] para obter a escala necessária para pagar por essas plantas enormes que temos que construir para tornar o negócio economicamente viável”, disse Biddle ao receber o prêmio The Economist de inovação em energia e meio ambiente de 2010. “O que a Europa descobriu é que faz sentido desenvolver uma estrutura organizada para coletar produtos que chegaram ao final de sua vida útil”.
A infra-estrutura a que Biddle se refere foi implantada em resposta à legislação que estabelece metas de reciclagem para produtos eletro-eletrônicos, a chamada WEEE Directive. Além disso, há impostos para o uso de aterros sanitários e as taxas aumentam ano a ano. “O que começou inicialmente como um mecanismo de proteção ambiental agora é visto como um veículo para a criação de empregos e a conservação de recursos”, diz ele. “É um motivador econômico”.
Boa parte dos materiais coletados para reciclagem na Europa são enviados à China nos contêineres que voltam vazios depois de transportar produtos para os consumidores europeus. “A maioria dos fabricantes de eletro-eletrônicos da China estão a 45 minutos de nossa planta”, conta Biddle. “Vendemos o plástico reciclado diretamente de volta a eles”.
Além de conter dados interessantes, a palestra de Biddle na TED do ano passado é inspiradora, vale o click no vídeo ao lado.